Para respondermos a esta pergunta é necessário que façamos outra: Acontece alguma coisa que Deus não queira?
Ora, sendo Deus a infinita sabedoria nada há que possa acontecer que não esteja dentro de suas leis. O que aparentemente está fora de suas leis é apenas o que nosso conhecimento e inteligência não conseguiu captar ou compreender.
Dentro deste princípio, de que tudo o que acontece está subordinado às leis Divinas, afirmamos que também a manifestação dos espíritos está em obediência a estas leis.
Como explicar, então, a proibição da evocação dos mortos contida na Bíblia?
Aqui poderíamos destacar, para quem não acredita, que a prova da possibilidade dos espíritos se manifestarem está nesta proibição de Moisés.
Destacamos “proibição de Moisés” não sendo, portanto uma proibição de Deus. Quem quer que estude o Pentateuco de Moisés – Gêneses, Deuteronômio, Números, Levítico e Êxodo – pode bem observar que ao lado das leis divinas, contidas nos Dez Mandamentos, Moisés fez toda uma legislação de convivência social, único meio que encontrou para moralizar um povo bruto, materialista e ignorante.
Se realmente fosse uma proibição Divina, ele mesmo, Moisés, não poderia aparecer juntamente com Elias a Jesus e seus discípulos Pedro, Tiago e João, na passagem narrada no Evangelho quando de sua transfiguração no monte Tabor.
Além disto Jesus, que sempre disse que veio cumprir a vontade do Pai, não faria, como não o fez, nada que fosse contrário às suas leis.
Desta forma poderemos dizer que a manifestação dos espíritos está dentro das leis Divinas. A Doutrina Espírita em seu aspecto científico, tenta desvendar as leis Naturais (diga-se leis Divinas) que regem as manifestações dos espíritos.
O Espiritismo é obra do Demônio?
É comum no ser humano taxar aquilo que não compreende, seguindo um conceito próprio, como obra do demônio, principalmente quando o fato ou situação não acontece dentro daquilo que ele segue.
Assim, para alguns, o fenômeno das manifestações espíritas nada mais é do que a manifestação do demônio. O conhecimento superficial ou muitas vezes distorcido da verdadeira base das manifestações é que faz com que certas pessoas as coloquem como demoníacas. Aqui estamos falando somente das pessoas bem intencionadas, pois infelizmente, existem as que conhecem a natureza das manifestações, mas por interesses pessoais passam aos outros que são obras satânicas.
A Doutrina Espírita tem sua origem nas instruções dos Espíritos. Tem como principal pilar: Fora da caridade não há salvação, colocando bem claro a todos nós, que somente o amor ao próximo, na mais elevada expressão, abrirá a cada um de nós as “portas” do Reino de Deus. Ora se os “demônios” nos induzem cada vez mais à prática da caridade e do amor ao próximo eles são excepcionais, pois nos levam justamente de encontro às máximas de Jesus Cristo. Com certeza seriam bem mais cristãos que a maioria de nós.
É interessante verificarmos que passados quase dois mil anos as situações parecem repetirem-se. Jesus foi acusado pelos sacerdotes de “príncipe dos demônios”, porque ele os expulsava das pessoas possessas. “Todo reino dividido em partidos que lutam uns contra os outros cairá em ruína” (Mt. 12, 25), foi a resposta sábia do Mestre aos seus acusadores. Hoje podemos repetir essas mesmas palavras àqueles que ainda pensam que somente os demônios se apresentam nas reuniões espíritas.
Cabe-nos, agora, analisar o termo demônio. Vem do grego “daimon”, querendo dizer gênio ou espírito de uma maneira indefinida. Não tinha o significado que hoje damos a este termo.
No Evangelho de Marcos 7; 24-30, temos o seguinte: “Jesus sai então dali e foi para a região de Tiro. Entrou numa casa e não queria que ninguém soubesse, mas não pôde ficar ignorado. Pois logo certa mulher, cuja filha estava possessa de um espírito impuro, ouviu falar dele e foi prostrar-se a seus pés.
Esta mulher era pagã, de origem siro-fenícia, e pedia que expulsasse o demônio de sua filha. Jesus respondeu: “Deixa que os filhos se alimentem primeiro; porque não é justo tirar o pão das crianças e dar aos cachorrinhos”. Mas ela respondeu assim: “É verdade, Senhor. Mas também os cachorrinhos, que ficam debaixo da mesa, comem as migalhas das crianças”. Jesus então lhe disse: “Por causa desta resposta, vai para casa; o demônio já saiu da tua filha”. Ela foi para casa e encontrou a menina deitada na cama – o ‘demônio’, de fato, já tinha saído.
Observamos que primeiramente se usa o termo espírito impuro depois ‘demônio’, ficando bem claro que o significado era o mesmo. No sentido que usualmente damos, será que existe o ‘demônio’? Tudo o que existe foi criado por Deus, e Ele sendo a bondade infinita não criaria o mal. Seria então um anjo decaído?
Ora, para alcançarmos o “título” de anjo, teríamos que evoluir e nos aperfeiçoar a tal ponto que não mais possuiríamos sentimentos inferiores como inveja, ciúme, etc., assim nunca desejaríamos ser igual a Deus. Com certeza, a nossa felicidade estaria justamente em cumprir sua vontade e participar de suas obras.
Finalizando, afirmamos então que o Espiritismo não é obra do demônio, até porque Deus seria injusto se só permitisse que os maus se manifestassem.
Paulo da Silva Neto Sobrinho (GEAK)
http://www.espirito.org.br/portal/artigos/paulosns/a-polemica-a-respeito-do-espiritismo.html