por: Fábio Lafaiete
Seja como protagonistas de um infindável número de crônicas, seja como um importantíssimo “objeto de decoração” dos castelos e das residências antigas, os fantasmas ocupam um enorme espaço no imaginário das pessoas: amedrontam quem neles acredita, encantam e divertem os místicos e céticos. Em todo o mundo, dificilmente haverá um lugar em que não se encontre alguém que conheça alguma estória sobre fantasmas. As assombrações se tornaram o foco de um segmento de mercado que, anualmente, movimenta cifras astronômicas. Basta olhar para as produções cinematográficas, que levam para as salas de exibição milhões de pessoas em busca da sensação de medo que esse tema desperta. É um mercado que atrai os que crêem e os que não crêem.
Mas, fantasmas existem realmente? Quem são eles? O que procuram? Se existem, até que ponto eles são inofensivos, ou não? Não se pode afirmar, nem mesmo negar, categoricamente a existência dessas formas de manifestações; até porque, os critérios adotados na definição do que é verdade e do que é lenda estão sujeitos à subjetividade. Talvez por isso, qualquer tentativa de provar a existência, ou inexistência, desses seres misteriosos quase não abala as convicções já estabelecidas: em muitos casos, o máximo de efeito que se obtém é fazer com que as pessoas se posicionem numa espécie de “ceticismo cauteloso” (elas podem até admitir um ponto de vista diferente do que já possuíam, mas sempre há lugar para a crença, ainda que muito discreta, em assombrações).
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Crenças (ou descrenças) à parte, o tema “fantasmas” remete aos primórdios da humanidade, quando as primeiras civilizações já narravam manifestações sobrenaturais. Na tentativa de elucidar o assunto, algumas doutrinas religiosas se posicionam de maneira que negam a existência de fantasmas, enquanto que outras doutrinas adotam a certeza dessa existência. Se por um lado há divergência entre as religiões, todas (ou quase todas) concordam que o corpo físico é provisório e que nele reside uma alma que não se deteriora, mas, que transcende para outro plano. As explicações sobre este processo de transição (onde ele começa, onde e como ele termina, etc.) variam de uma religião para a outra; porém, sem discordar que a alma existe e é imortal. É este denominador comum que as religiões encontraram viabiliza a crença em fantasmas.
No entanto, deve-se ter cautela ao abordar o assunto. É preciso considerar fatores que, quando combinados, podem espalhar uma onda de histeria coletiva. Lugares onde, por exemplo, o clima é úmido e tem muita neblina, pode influenciar uma pessoa a acreditar que viu algo que não viu realmente, principalmente se o local tem fama de mal-assombrado. Pessoas sugestionadas por lendas locais estão mais suscetíveis a terem a firme convicção de terem visto um fantasma, quando, na verdade, estavam diante de um forte nevoeiro ou uma construção muito antiga (é muito comum ouvir sons estranhos vindos de construções antigas em virtude de seu estado de conservação, cupins, etc.).
Uma pessoa, nessas condições, convencida de ter visto uma assombração de que pode acabar se deparando com uma – afinal, outras pessoas já viram – ainda que ouvisse um grande número de explicações para o “fenômeno” que tenha presenciado, só aceitaria o que a crença e a boa vontade lhe permitissem, deixando de lado a objetividade científica; pois, quando se fala em manifestações sobrenaturais, todas as explicações deixam algo a desejar. É pouco provável que você, leitor, já tenha visto um fantasma. Também é pouco provável que você conheça alguém que já tenha visto algo desse tipo. Mas, certamente você conhece alguém que, por sua vez, conhece ou tem um amigo que já viu um poltergeist.
Na Inglaterra, onde os casos de aparições são famosos, foram criados centros de estudo e pesquisa desses fenômenos. É óbvio que a comprovação de que relatos ou imagens (todos os dias, milhões de vídeos e fotos sobre fantasmas circulam na Internet) possam não ter autenticidade, não significa fantasmas não existem. Especialistas no assunto costumam classificar os fantasmas como o vestígio de um passado, um acontecimento. Bem como violentos fenômenos físicos – por exemplo, a explosão de uma bomba – deixam marcas de sua ocorrência, da mesma forma, uma pessoa pode deixar traços de sua existência, mesmo após a sua morte.
Uma pessoa acometida de uma morte violenta (um assassinato, um suicídio, um acidente, etc.) pode, no instante da morte, deixar impresso no ambiente onde o óbito ocorreu todo o seu sofrimento, desespero, angústia, etc. Essas impressões podem, posteriormente, ser percebidas por alguém que tenha sensibilidade especial. Essa teoria serve para explicar as narrativas mais comuns sobre fantasmas: fantasmas em lugares onde ocorreram tragédias ou mortes violentas. No entanto, muitos cientistas afirmam que pensamentos e sensações, por mais violentos que eles sejam, não são capazes de permanecer impregnados nas paredes de uma ambiente ou no ar. Esta é uma argumentação que costuma ser rebatida com o fato de que, hoje já se sabe que a mente uma é capaz de manipular a matéria (telecinésia, pirocinésia, etc.).
Outra teoria muito conhecida, principalmente entre os espíritas, é a de que os espíritos dos mortos tentam se comunicar com o mundo dos vivos e, que eles (os fantasmas) são reais e, na maioria dos casos, inofensivos. De acordo com a doutrina espírita, os fantasmas que vagam por lugares mal-assombrados não são vestígios de um passado, e sim espíritos sofredores em busca de luz. O contato com essas almas é feito através de um médium, ou sensitivo. Os espíritas afirmam ainda que a alma de uma morto pode ser materializada: os espíritos usam a energia dos sensitivos, ou fluidos mentais, para assumir uma forma visível. Daí parte a tese de que espíritos se manifestam a partir do que as próprias pessoas mentalizam.
Dessa forma, chegamos a uma terceira teoria, que se resume em: a manifestação de alguma propriedade da mente humana. Ocorre quando um fantasma se manifesta perante duas ou mais pessoas. Os especialistas afirmam que quando um grupo de pessoas presencia uma manifestação desse tipo, está, na verdade, diante de algum tipo de manifestação mental capaz de projetar a imagem de um fantasma e esta, por sua vez. Dessa forma, se atribui ao pensamento uma consistência física, tornando possível a captura dessa imagem por câmeras e filmadoras. Nesse campo de manifestações atua a parapsicologia.
Outra característica comum aos fantasmas é que os indícios de sua existência, quase sempre, dependem dos relatos feitos por outras pessoas, algum tempo depois da aparição. Psicólogos afirmam que pouquíssimas pessoas são capazes de fazer um relato fiel e íntegro de um acontecimento dessa natureza e, que quanto maior for o intervalo entre a aparição e a narração, maior será a união entre os fatos reais e a fabulação da mente. É do conhecimento de todos que o testemunho humano, ainda que honesto e bem intencionado, está sujeito a erros e inconsistências evidentes: testemunhos podem ser distorcidos e a memória pode ser tendenciosa. Por outro lado, se tudo pudesse ser explicado de forma tão simples (afirmar que não passa de fruto da imaginação), por este ponto de vista, bastaria recorrer à psicologia e todos os casos de assombração estariam solucionados.
Para os céticos, os fantasmas poderiam ser levados a sério se os relatos de suas aparições se baseassem em provas mais concretas. Entretanto, a ausência de tais provas não invalida a idéia de que fantasmas existem. Quem pode garantir que amanhã ou depois a imprensa não será convocada para a divulgação de um caso que não deixe sombra de dúvidas sobre a existência de seres do além? E se isso acontecesse, os céticos mudariam de opinião em relação aos fantasmas? Enquanto isso não acontece, vale lembrar a célebre frase de William Sheakespeare, em Hamlet "há mais mistérios entre o céu e a Terra do que supõe a nossa vã filosofia". O fato é que mesmo sem conseguir provar sua existência, os fantasmas e as assombrações contribuem para tornar nossa vida – e nossa morte – um pouco mais interessante.
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