tradução e adaptação: Ligia Cabús
O olhar ─ uma arma poderosa que dispara pensamentos fatais.
O "olho do mal" é uma crença místico-supersticiosa muito antiga e mundialmente difundida. O "olho do mal" é um pensamento dirigido, um olhar carregado de maldade, de maus desejos, más projeções. O "olho do mal" é essa energia nociva dirigida a alguém ou a algum objeto. Carregado de inveja e maldição, o "olho do mal", considerado causa de má sorte é associado à bruxaria, feitiço, encantamento.
Até onde a história ocidental pode rastrear, o conceito de "olho do mal" tem origem na antiguidade clássica do Oriente Médio; a crença se espalhou pelas Américas, ilhas do Pacífico sul, Ásia, África e Austrália, levada pelos europeus durante o ciclo das "grandes navegações". [Uma visão mais ampla da história revela que o "mau olhado" é muito mais antigo e mais universal do que apressadamente supõem os estudiosos ocidentais].
O mau olhado é um PODER que a tradição relaciona ao "terceiro olho", o olho espiritual que o povo costuma representar localizado no centro da testa [mas cuja sede, segundo ocultistas, na verdade, se localiza na base só crânio. na glândula pineal.
O TERCEIRO OLHO é entendido como um órgão que, no homem contemporâneo, é normalmente atrofiado. Este órgão, que no passado remotíssimo servia para a percepção das realidades subjetivas, metafísicas, vidência, e projeção de energias, pode ser ativado ou ser naturalmente ativo em algumas pessoas: pessoas que têm percepção para-normal, além das faculdades comuns, dos sentidos físicos "normais".
Na Itália, o "mau olhado" é chamado malocchio; na Espanha, malojo (olho mau); em hebreu é ayin horeh; em árabe, harsha; droch shuil, em escocês; mauvais, na França; bösen blick, na Alemanha; matiasma, para os gregos; o oculus malus, entre os romanos antigos.
em cima ─ Olho de Hórus, amuleto egípcio | em baixo ─ a figa, muito usada contra mau-olhado.
A crença tradicional é de que alguém pode provocar dano à saúde alguém, aos filhos de alguém, dano à propriedade, às colheitas, aos negócios e todo e qualquer sinal de prosperidade e bem estar, por inveja, ambição e sentimentos semelhantes. O dano é causado pela projeção do olhar, expressão física de um pensamento negativo. A posse de bens materiais, o sucesso e a beleza são os atributos que, em geral, despertam o "olho mau". Por esta razão, muitas celebridades se queixam de má sorte ou de "ondas de infortúnio'. A visibilidade resultante da fama aumenta a possibilidade estatística de alguém ser vítima do "mau olhado".
O mau olhado é como um golpe na aura que produz reflexos em todo o ser mental e físico da vítima susceptível, "corpo aberto". Diz o folclore que o "olho do mau" desidrata o "alvo". Causa vômito, diarréia, seca o leite de mulheres que estão amamentando, envenena o sangue, causa impotência sexual, queda de cabelo, infecções (baixa da capacidade de reação do sistema imunológico), seca os campos, destrói os bens, ceifa lucros. No plano astral, drena o prana (sopro, energia vital).
Antídotos
Freqüentemente, o "mau-olhado" é um poder involuntário. A pessoa que emite a energia negativa quase sempre não sabe que "faz" o mal com seus pensamentos mais recôntidos. Muitas vezes, os maus pensamentos não são reconhecidos pelo pensador. Na Itália, quem tem "mai olhado" é chamado jettatore - projetores. Em culturas antigas, quando uma comunidade identificava um jettatore, este era banido do convívio social.
Existem "antídotos" preventivos para o "olho do mal". O mais comum é um gesto de mão: a a figa - Mano fico ou Fig hand feita de prata e ornada com pedra preciosa. Ainda na Itália, para saber se alguém está "de olhado" - vitimado pelo mau-olhado, usa-se a simpatia de derramar o óleo de oliva na água; se o fio de óleo formar a figura de um olho a pessoa é considerada atingida pela maldição. Na Ucrânia, uma forma de ceromancia, leitura da cera de uma vela, é usada para diagnosticar o mal. A cera líquida é depositada na água e procede-se à interpretação das imagens que aparecem. Confirmada a maldição, o "paciente" deve ser banhado com água benta.
No México, um curandeiro passa um ovo não-cozido pelo corpo da suposta vítima. Depois, quebrado o ovo, procede a leitura da gema. Em outra versão, o ovo é colocado debaixo da cama do "enfeitiçado" por uma noite. Pela manhã, se faz a leitura da gema. Na China, os místicos usam o Pa Kua - um espelho de seis faces é colocado em frente à porta da casa ou em frente a uma janela. O espelho devolve a energia ao emissor. A ciência-arte do Feng Shui utiliza esses espelhos nos processos de cura de transformação da Har Shui - energia negativa.
Na Índia, os espelhos também são usados contra o mau-olhado, costurados nas roupas. Vem da Índia a tradição de que os olhos são os "espelhos da alma". A maquiagem usada pelas mulheres, destacando os olhos, é um recurso de projeção da alma, fortalecimento da personalidade e de proteção contra os olhares noscivos de terceiros.
Outro recurso indiano muito usado nos campos é o "olho reverso", ou olho que protege contra olho. Grandes vasos esféricos com círculos vistosos pintados na superfície são espalhados nas plantações. Amuletos de proteção como os anéis, tiaras e pingentes de pescoço também usam a figura do olho para rebater o mau-olhado. Nestes casos, o princípio de defesa é dispersão da energia do olhar. O "olho mau" é desviado para os objetos redondos, coloridos e brilhantes antes de mirar em uma vítima humana ou nos bens de uma vítima humana. A energia ruim é absorvida em boa parte pelo amuleto.
Os amuletos têm sua eficiência física e metafísica porém a defesa contra mau-olhado é uma aura fortalecida pelos pensamentos positivos, pela percepção de si mesmo como unidade energética inviolável, impenetrável para qualquer outra energia de interferência desarmônica. Nas palavras do cabalista Eliphas Levi:
MAU OLHADO
No Norte, onde os instintos são mais reprimidos e mais vivazes; na Itália, onde as paixões são mais expansivas e mais ardentes, ainda são temidas as sortes e o mau olhado; em Nápoles, não é desafiada impunemente a jettatura, e até reconhecemos, por certos sinais exteriores, os seres desgraçadamente dotados deste poder. Para garantir-se contra isso, é preciso trazer consigo chifres, dizem os práticos, e o povo, que toma tudo ao pé da letra, apressa-se em enfeitar-se com pequenos cornos, sem pensar no SENTIDO DA ALEGORIA. Os chifres, atributos de Júpiter Amon, Baco e Moisés, são SÍMBOLOS da força moral e do entusiasmo; e os magos querem dizer que para desafiar a jettatura, é preciso DOMINAR POR UMA GRANDE OUSADIA, um grande entusiasmo ou um GRANDE PENSAMENTO a CORRENTE fatal dos instintos. (LEVI, 1995 - p 196)
ENFEITIÇAMENTOS
(...) afirmamos sem temor que o enfeitiçamento é possível. (...) não só é possível como também é, de algum modo, necessário e fatal. Realiza-se sem cessar, no mundo social, sem conhecimento dos agentes e pacientes. O enfeitiçamento involuntário é um dos mais terríveis perigos da vida humana. (...) Há, pois, duas espécies de enfeitiçamentos: o enfeitiçamento involuntário e o enfeitiçamento voluntário. Pode-se também distinguir o enfeitiçamento físico do enfeitiçamento moral. (LEVI, p 177 | 178)
IMAGINAÇÃO
Um dos poderes mais estranhos da imaginação humana é o da realização dos desejos da vontade ou até de seus temores e apreensões. A pessoa crê facilmente no que teme ou no que deseja, diz o provérbio, e tem razão, porque o desejo e o temor dão à imaginação uma força realizadora, cujos efeitos são incalculáveis.
Os mestres ocultistas advertem que o medo é a principal porta de entrada para a energia venenosa do mau-olhado. Os acreditam e, sobretudo os que temem o poder do enfeitiçamento são os mais susceptíveis a serem atingidos pela jettatura (magia do olho). O medo, a culpa, e o temor podem levar à ruína, doença e mesmo à morte por um processo de auto-sugestão, bastante conhecido em psicologia. O fenômeno da auto-sugestão é o princípio mestre no qual se fundamenta toda a eficácia do olho do mal.
FONTES
What is the Evil Eye? - EZINE Articles por Samantha Stevens - acessado em 30/12/2006
LEVI, Eliphas. Dogma e Ritual da Alta Magia - [Trad. Rosabis Camayasar] Fichamento: Ligia Cabús - São Paulo: Ed Pensamento, 1995.
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