MAIS DE 3.100 E-LIVROS GRÁTIS. eguidores

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

BEZERRA DE MENEZES

O MÉDICO DOS POBRES

CONHCECIDO PELO COGNOME “O KARDEC BRASILEIRO”

      Adolfo Bezerra de Menezes Calvacanti nasceu na madrugada de 29 de agosto de 1831, em Riacho do Sangue, no Estado do Ceará. Descendia de antiga família, das primeiras que vieram do sul povoar a região.

      Seu avô paterno, Coronel Antonio Bezerra de Souza e Menezes, político muito influente no Ceará, tomou parte na insurreição republicana federalista de 1824(Confederação do Equador), tendo sido preso e condenado à morte, pena que foi comutada em degredo perpétuo para o interior do Maranhão, não cumprida por haver ele falecido logo depois.

      Seus pais: Antonio Bezerra de Menezes - capitão das antigas milícias e tenente coronel da Guarda Nacional, homem generoso, modelo de probidade e justiça, falecido em Outubro de 1851 – e Dona Fabiana de Jesus Maria Bezerra, fervorosos adeptos da Igreja Católica.

      Aos sete anos (em 1838) foi o pequeno Adolfo matriculado na escola pública da vila do Frade. Aos onze anos, sua família mudou-se para o Rio Grande do Norte; o pai, que fazia parte dos “liberais”. O partido político da província do Ceará que o levou a abandonar suas terras, pois era tempo de impiedosa perseguição política. O menino foi então matriculado na aula pública de latinidade, que funcionava na Serra do Martins e era dirigida por padres jesuítas. Isto se verificava na vila da Maioridade, mais tarde, cidade da Imperatriz. Dois anos depois o aluno, que rapidamente aprendeu os segredos e o manejo do idioma, chegava a substituir o professor.

      Em 1846 o velho Bezerra retornou ao Ceará, fixando residência na Capital. Adolfo foi matriculado no Liceu, que era dirigido por seu irmão mais velho; aí se preparou durante quatro anos.

      Contando 20 anos de idade, e tendo optado por Medicina, o pai enviou-o para a Corte, não sem antes narrar-lhe o motivo da precária e angustiosa situação financeira da família: os bens de fortuna de que dispunha o chefe da casa haviam sido consumidos em socorro a necessitados.

      Sozinho na Guanabara, de 185l a 1856, viveu uma fase de estudante pobre, repleta de sacrifícios e de duras renúncias. Morava em quarto, só. Era arredio à turbulência, procurando sempre o isolamento e o sossego.

      Desde o segundo ano, a fim de poder manter-se na Faculdade, dava aulas avulsas de intervalo e à noite. Como não possuía livros, estudava nas bibliotecas públicas.

      Destacava-se por uma linha de conduta impecável; moço forte, corado e de olhos meigos e inteligentes, que lembrava o tipo racial dos nórdicos europeus, casando a pujança física à humildade bondosa da alma simples.

      Há esse tempo um sopro de ateísmo perpassava pelo mundo inteiro. A mocidade estudiosa, à medida que conquistava maior cabedal de cultura, declarava-se, desde logo, de um ateísmo irrevogável.

      Dos primeiros fatos que o levaram a graves reflexões sobre o mundo invisível, consta que certa feita, sem dinheiro para pagar as taxas da Faculdade, arriscando-se a perder o ano, e ainda ameaçado de despejo, foi procurado por um moço que lhe pedia aulas de matemática. O rapaz fez questão de pagar antecipadamente; Bezerra pôde assim liquidar as dívidas, mas o misterioso discípulo nunca mais apareceu.

      No final de 1856 Bezerra de Menezes concluiu o seu curso de medicina. Sempre obteve, nos exames anuais, a primeira nota. Doutorou-se defendendo a tese: “Diagnóstico do cancro”. Juntamente com um colega, montou uma salinha no centro comercial da cidade. Desconhecidos os jovens médicos, durante os meses em que o consultório permaneceu aberto, a clínica foi quase nenhuma.

      Mas em sua casa de residência, Bezerra obtinha sucesso, prestando perfeitos diagnósticos. Dos componentes da família, passou a atender aos amigos... E o bairro enxameava de criaturas curadas pelo seu “doutor Bezerra”. Ninguém pagava; era gente absolutamente pobre, e o médico nunca falou em dinheiro a pessoa alguma.

      No ano em que conquistou seu diploma, um amigo – o chefe do Corpo de Saúde do Exército, Manoel Feliciano Pereira de Carvalho, chamou-o para o Hospital Central. Assim, Bezerra de Menezes passou a ser cirurgião-tenente do Exército. Bem-sucedido, logo no ano seguinte era recebido como sócio efetivo da Academia Nacional de Medicina.

      Jamais esqueceu a enorme clientela caseira. A clínica crescia. Extravasava dos limites do bairro e logo o “médico dos pobres” já atendia a clientes que vinham de longe. No seu consultório do Centro, os ricos pagavam, mas o jovem médico gastava tudo que ganhava com os seus pobres.

      Casou-se com Dona Maria Cândida de Lacerda, no dia seis de novembro de 1858.

      Também jornalista brilhante, colaborando nos principais jornais da metrópole, muito acatado nos meios militares, logo foi chamado à política. A partir de 1860 foi eleito pelos “Liberais”, ao Parlamento, e viu-se um pouco cercado da estima e da admiração de todos.

      Em 1863 Bezerra ficou viúvo, com dois filhos: um de três e o outro de um ano de idade. Reeleito para o cargo de vereador em 1864, casou-se, em segunda núpcias, com Dona Cândida Augusta de Lacerda Machado, irmã materna de sua primeira mulher e de quem teve sete filhos (esta, seguiu-o e amparou-o com desvelo e carinho, até à desencarnação).

      Viu o seu nome aclamado na Câmara, para onde fora eleito deputado geral, em 1867. Era um tempo tumultuoso na política do país, ao ponto do Governo Imperial dissolver a própria Câmara, no ano seguinte. Caía o partido liberal e, tal como o seu pai, outrora, Bezerra sofreu por dez anos a perseguição dos contrários.

      Nesse período exercia o cargo de presidente da “Companhia Carris Urbanos” e da “Estrada de Ferro Macaé - Campos”, da qual era fundador. Apesar das muitas preocupações, prosseguiu nas lutas partidárias. Sua palavra, nos comícios, e sua pena, na imprensa, não tiveram repouso. Escrevia continuadamente em “A Reforma”, órgão liberal da Corte.

      Com a Câmara reconstituída, foi eleito deputado em 1878. Em 1880

era designado para presidente da Câmara Municipal e líder do seu partido.Em 1885, Bezerra atingiu o fim de suas atividades na política, tudo fazendo sempre por engrandecer o Brasil. Seu nome, entretanto, ainda viria a figurar numa lista tríplice para senador pelo Rio de Janeiro, pouco antes da proclamação da República.

 

000

 

      Logo que apareceu a primeira tradução brasileira de “O Livro dos Espíritos”, em 1875, foi oferecido ao então já conhecido deputado Bezerra de Menezes um exemplar da obra pelo tradutor, Dr. Joaquim Travassos, que fazia parte da organização espírita Grupo Confúcius, do Rio de Janeiro.

      Ao atirar-se à leitura – que teve início no bonde de retorno ao lar, viveu a seguinte experiência, como narrado por ele próprio: - Lia. Mas não encontrava nada que fosse novo para o meu espírito. Entretanto tudo aquilo era novo para mim!... Eu já tinha lido ou ouvido tudo o que se achava no “Livro dos Espíritos”... Preocupei-me seriamente com este fato maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita inconsciente, ou, como se diz vulgarmente, de nascença...

      Contribuíram para torná-lo um adepto consciente, as extraordinárias curas que conseguiu, em 1882, por intermédio do famoso médium receitista João Gonçalves do Nascimento, fatos esses relatados, posteriormente, em o “Reformador” de 15 de outubro de 1892.

      Augusto Elias da Silva lançara, em 1883, o Reformador. O movimento contra o Espiritismo recrudescera de súbito. Elias vai então consultar Bezerra sobre as melhores diretrizes a tomar. O venerável médico aconselhou então a contrapor ao ódio o amor, e a agir-se com discrição, prudência e harmonia.

      Fundada a Federação Espírita Brasileira em dois de janeiro de 1884, no Rio de Janeiro, Bezerra de Menezes não quis inscrever-se entre os fundadores, embora fosse amigo de todos os diretores e sobremaneira admirado por eles.

      Em 16 de Agosto de 1886, no grande salão na Rua da Guarda Velha, atual Avenida 13 de Maio, foi registrado um acontecimento de repercussão estrondosa nos meios político  religioso e médico: Bezerra de Menezes, ante um auditório de pessoas da melhor sociedade, proclamava solenemente a sua adesão ao Espiritismo. O orador por mais de uma hora teve a presa a atenção de seus ouvintes, que o aclamaram com uma salva de palmas ao deixar a tribuna. O salão, que comporta número superior a 1.500 pessoas, esteve completamente cheio.

      Principiou em 1888 o romance intitulado “A Casa Assombrada”, no qual relata muitos fatos de sua vida. Outras obras lhe são devidas: “A Loucura sob Novo Prisma”; “A Doutrina Espírita como Filosofia Teogônica”, reeditada com o título – “Uma Carta de Bezerra de Menezes”; e romances publicados em folhetim, pelo “Reformador”, como “Casamento e Mortalha”, “Pérola Negra”. “Lázaro – O Leproso”, “História de um sonho”, “Evangelho do Futuro” e outros, além de vários inéditos.

      Em 1889, como presidente da Casa de Ismael, iniciou o estudo metódico de “O Livro dos Espíritos” em sessões semanais no salão da FEB, o que até hoje é seguido. Quando vice-presidente da FEB, 1890 e 1891, traduziu o livro Obras Póstumas, de Allan Kardec, cuja publicação se deu em 1892.

      A presença sábia e bondosa de Bezerra vinculou fortemente o Grupo Ismael, a Federação e a Assistência aos necessitados, em torno da mesma divisa que permanece à frente da Casa de Ismael – DEUS, CRISTO E CARIDADE.

      Eleito presidente em três de Agosto de 1895, cogitou logo de imprimir uma orientação basilarmente evangélica aos trabalhos da Federação Espírita Brasileira, consoante as mensagens mediúnicas que assim recomendavam: “Reunidos em nome de Ismael, não tendes outros deveres senão estudar os Evangelhos à Luz da Doutrina Espírita”(Allan Kardec); “ A missão dos Espíritas, no Brasil, é Divulgar o Evangelho em espírito e verdade.”(Ismael); “ A cada povo a sua tarefa. A vossa, a maior, é o Evangelho: tendes de educar os corações” Tal orientação se refletiu no Reformador, do qual era redador-chefe.

      Bezerra ele próprio recomeçou o estudo sistemático de O Livro dos Espíritos em sessões públicas e o salão da FEB se encheu de irmãos pressurosos em ouvir a palavra inspirada do venerando pregador. A Federação cresceu na admiração e no respeito de todos os espíritas. Em 1899 cogitava o abnegado presidente em instituir mais uma sessão semanal, para estudo dos Evangelhos à luz do Espiritismo, quando em Dezembro foi acometido de uma congestão cerebral. Todavia, esse seu último propósito foi concretizado, e tão solidamente que perdura até aos dias atuais, todas as terças-feiras.

      Fala Humberto de Campos na obra mediúnica de Francisco Cândido Xavier, “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”; “Bezerra desprendeu-se do orbe, tendo consolidado a sua missão para que a obra de Ismael pudesse ser livremente cultivada no século XX. E essa obra prossegue sempre. Podem as inquietações da Terra e as incompreensões separar, muitas vezes, os trabalhadores humanos no seu terreno de ação; mas a Sociedade benemérita, onde se ergue a flâmula luminosa – DEUS, CRISTO E CARIDADE - permanece no seu porto de paz e esclarecimento.”

      Elevado às expressões mais significativas do Brasil, em sua época, foi assim, também, durante largos anos, um dos líderes do Espiritismo, conhecido como o “Kardec Brasileiro”, tendo sido intensa a sua atividade em defesa dos direitos e liberdades dos espíritas contra certos artigos do Código Penal (do império).

      Presidiu durante vários anos, o “Centro Espírita do Brasil”, entidade fundada em 21 de Abril de 1889 (segunda fase) e que por algum tempo buscou orientar e unificar o Espiritismo em nossa Pátria; foi diretor efetivo do “Centro da União Espírita de Propaganda do Brasil”, que fora reorganizado em quatro de Abril de 1894.

      De todas as altas posições que ocupou, na vida pública brasileira, o que mais engrandece e dignifica Bezerra de Menezes foi o trabalho extraordinário que conseguiu realizar silencioso e modesto, em favor dos pobres e dos desvalidos. Tão grande era seu coração, na prática do bem, que o povo o cognominou – “Médico dos Pobres”. - Viveu e morreu modestamente, distribuindo com os necessitados tudo o que possuía.

      Prezalindo Lery Santos, jornalista e literato, autor de obras didáticas e biográficas, escreveu sobre Bezerra, no livro “Pantheon Fluminense – Esboços biográficos”, publicado no Rio em 1880: “Quem o conhece e sabe que vive sofrendo privações, quando poderia passar na abastança, não precisando para isso mais do que ter continuado a exercer sua clínica; quem sabe que ele não se envolveu jamais em transações de ganhar e de perder, nem tem vícios que lhe consumam fortuna; quem se lembra de que entrou ele para a política tendo diante de si uma carreira tão gloriosa quanto lucrativa, e dispondo de fortuna, e o conhece sem recursos para dar a seus filhos a conveniente educação; esses desprezarão as aleivosias que lhe tem jogado a calúnia, e lastimarão que tenha feito o sacrifício do futuro brilhante que lhe augurava o seu talento médico e a aptidão especial que revelara para a cirurgia.”

      Aos 11 de abril de 1900, às 11h30, desencarnava no Rio de Janeiro o Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, inolvidável Apóstolo do Espiritismo no Brasil, abolicionista inflamado, antigo líder do Partido Liberal, deputado em várias legislaturas e presidente da Câmara Municipal da Corte. Desencarnava com um brilhante de glórias cívicas e espirituais.

      Conforme nos conta hoje o Espírito Guillon Ribeiro no livro Voltei,

O pranteado “Médico dos Pobres”, embora autorizado a sublime ascensão aos planos superiores, renunciou a semelhante glória, a fim de se consagrar, mais de perto e por tempo mais dilatado, à transformação gradual de longas fileiras de infelizes, pobres almas que necessitam de abnegados médicos espirituais.

 

BEZERRA DE MENEZES FOI MÉDICO, PRESIDENTE DA ILUSTRÍSSIMA CÂMARA DA CORTE, DEPUTADO GERAL DO IMPÉRIO E OFICIAL DO EXÉRCITO DO BRASIL.”

 

FONTE: “Bezerra de Menezes – o médico dos pobres”, F. Acquarone, Editora Aliança, 17ª. Edição, 1996; “Grandes Espíritas do Brasil”, Zeus Wantuil, Editora FEB, 3ª. Edição. 1990.

 

ADE-ASSOCIAÇÃO DE DIVULGADORES DO ESPÍRITISMO DE SERGIPE.

 

João Batista Cabral

Presidente da ADE-SERGIPE

WEBSITE: www.ade-sergipe.com.br

E-mail: jomcabral@brabec.com.br

Aracaju-Sergipe-Brasil

Em: 24.12.2004.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ADICIONE SEU COMENTÁRIO AQUI