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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

AUTO-DE-FÉ DE BARCELONA

Auto-de-fé de Barcelona é uma expressão notabilizada por Allan Kardec para se referir à queima, em praça pública, de trezentos livros espíritas, realizada no dia 9 de outubro de 1861 em Barcelona, Espanha. Foi utilizada pela primeira vez no subtítulo do artigo "O resto da Idade Média", publicado em novembro daquele ano, na "Revue Spirite".
História
Maurice Lachâtre, editor francês, achava-se estabelecido em Barcelona com uma livraria, quando solicitou a Kardec, seu compatriota, em Paris, uma partida de livros espíritas, para vendê-los na Espanha.
Quando os livros chegaram ao país, foram apreendidos na alfândega, por ordem do Bispo de Sevilha, sob a alegação de que "A Igreja católica é universal, e os livros, sendo contrários à fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outros países". O mesmo eclesiástico recusou-se a reexportar as obras apreendidas, condenando-as à destruição pelo fogo.
O auto-de-fé ocorreu na esplanada de Barcelona, às 10h30 da manhã. Conforme lista oficial transcrita na "Revue Spirite", foram queimados os seguintes títulos:
Revista Espírita, dirigida por Allan Kardec;
A Revista Espiritualista, dirigida por Piérard;
O Livro dos Espíritos, por Allan Kardec;
O Livro dos Médiuns, por Allan Kardec;
O que é o Espiritismo?, por Allan Kardec;
Fragmento de sonata, atribuído ao Espírito de Mozart;
Carta de um católico sobre o Espiritismo, pelo doutor Grand;
A História de Jeanne d'Arc, atribuído a Joana D'arc pela médium Ermance Dufaux;
A realidade dos Espíritos demonstrada pela escrita direta, pelo barão de Guldenstubbé.
A mesma fonte informa terem assistido ao evento:
um padre, com as roupas sacerdotais, trazendo a cruz numa mão e a tocha na outra;
um notário encarregado de redigir a ata do auto-de-fé;
o escrevente do notário;
um funcionário superior da administração da alfândega;
três serventes da alfândega, encarregados de manter o fogo;
um agente da alfândega representando o proprietário das obras condenadas pelo bispo; e
uma multidão, que vaiava o religioso e seus auxiliares aos gritos de "Abaixo a inquisição!"
O evento causou viva impressão através da imprensa de todo o mundo à época, evocando as antigas fogueiras do Santo Ofício, chamando a atenção para as obras espíritas.

Necrologia
Revista Espírita, agosto de 1862
A morte do bispo de Barcelona

Escreveram-nos da Espanha que o bispo de Barcelona, aquele que fez queimar trezentos
volumes espíritas, pelas mãos do carrasco, a 9 de outubro de 1861 (1-(1) Ver, para os
detalhes, a Revista Espírita dos meses de novembro e dezembro de 1861), morreu no dia 9
deste mês, e foi enterrado com a pompa habitual para os chefes da Igreja. Nove meses
somente se escoaram desde então, e já aquele auto-de-fé produziu os resultados
pressentidos por todo o mundo, quer dizer, apressou a propagação do Espiritismo naquele
país. Com efeito, a repercussão que esse ato inqualificável teve neste século, chamou sobre
a Doutrina a atenção de uma multidão de pessoas que jamais dela ouviram falar, e a
imprensa, não importa qual opinião, não pôde ficar muda. A disposição deplorável, nessa
circunstância, era sobretudo de atiçar a curiosidade pelo atrativo do fruto proibido, e
sobretudo pela própria importância que isso dava à coisa, cada um dizendo-se que não se
procede desse modo por uma bagatela ou um sonho vazio; muito naturalmente o
pensamento se transportou a alguns séculos atrás, dizendo-se que recentemente, nesse
mesmo país, não se queimou somente os livros, mas as pessoas. Que poderiam, pois,
conter os livros dignos das solenidades da fogueira? Foi o que se quis saber, e o resultado
foi na Espanha o que é por toda a parte onde o Espiritismo foi atacado; sem os ataques
zombeteiros ou sérios dos quais foi objeto, contaria dez vezes menos partidários do que os
tem; quanto mais a crítica foi violenta e repetida, mais foi posto em relevo e fez crescer; os
ataques calmos podem passar despercebidos, ao passo que os relâmpagos de raio
despertam os mais entorpecidos; se quer ver o que se passa, e é tudo o que nós pedimos,
seguros antecipadamente do resultado do exame. Este é um fato positivo, porque cada vez
que, numa localidade, o anátema desceu sobre ele do alto da cátedra, estamos certos de
ver o número de nossos assinantes crescer, de vê-los chegar, se não os havia antes. A
Espanha não podia escapar a esta conseqüência, também não há um Espírita que não se
rejubilou tomando o auto-de-fé de Barcelona, pouco depois seguindo o de Alicante, e
mesmo mais de um adversário deplorou um ato em que a religião nada tinha a ganhar.
Cada dia temos a prova irrecusável da marcha progressiva do Espiritismo nas classes mais
esclarecidas daquele país, onde conta zelosos e fervorosos adeptos.
Um de nossos correspondentes da Espanha, nos anunciando a morte do bispo de Barcelona,
convidou-nos a evocá-lo. Dispusemo-nos a fazê-lo, e havíamos, em conseqüência,
preparado algumas perguntas, quando ele se manifestou espontaneamente por um de
nossos médiuns, respondendo antecipadamente a todas as perguntas que queríamos dirigir-lhe,
e antes que elas tivessem sido pronunciadas. Sua comunicação, de um caráter
inteiramente inesperado, contém entre outras a passagem seguinte:
"................................................................................ Ajudado por vosso chefe
espiritual, pude vir vos ensinar pelo meu exemplo e vos dizer: Não repilais nenhuma das
idéias anunciadas, porque um dia, um dia que durará e pesará como um século, essas
idéias anunciadas gritarão como a voz do anjo: Caim, que fizeste de teu irmão? Que fizeste
de nosso poder, que devia consolar e elevar a Humanidade? O homem que,
voluntariamente, vive cego e surdo de espírito, como outros o são de corpo, sofrerá,
expiará e renascerá para recomeçar o trabalho intelectual que sua preguiça e seu orgulho
lhe fizeram evitar; e essa terrível voz me disse: Queimaste as idéias, e as idéias te
queimaram.......................
"Orai por mim; orai, porque ela é agradável a Deus, a prece que lhe dirige o perseguido
pelo perseguidor.
"Aquele que foi bispo e que não é mais que um penitente."
O contraste entre as palavras do Espírito e as do homem nada tem que deva surpreender;
todos os dias se vê quem pensa de outro modo depois da morte que durante a vida, uma
vez que a venda das ilusões caiu, e é uma incontestável prova de superioridade; os
Espíritos inferiores e vulgares persistem nos erros e preconceitos da vida terrestre. Quando
vivo, o bispo de Barcelona via o Espiritismo através de um prisma particular que lhe
desnaturava as cores, ou, dizendo melhor, não o conhecia. Agora ele o vê sob sua
verdadeira luz, e sonda-lhe as profundezas; tendo caído o véu, isso não é para ele uma
simples opinião, uma teoria efêmera que se pode abafar sob a cinza: é um fato; é a
revelação de uma lei da Natureza, lei irresistível como a força da gravidade, lei que deve,
pela força das coisas, ser aceita por todos, como tudo o que é natural. Eis o que ele
compreende agora, e o que lhe fez dizer que: "as idéias que quis queimar o queimaram,"
dito de outro modo, carregaram os preconceitos que lhe havia feito condenar.
Não podemos, pois, isso admitir, pelo tríplice motivo de que o verdadeiro Espírita não quer
isso para ninguém, não conserva rancor, esquece as ofensas e, a exemplo do Cristo, perdoa
aos seus inimigos; em segundo lugar porque, longe de nos prejudicar, nos serviu; enfim,
que reclama de nós a prece do perseguido pelo perseguidor, como a mais agradável a
Deus, pensamento todo de caridade, digno da humildade cristã que revelam estas últimas
palavras: "Aquele que foi bispo e que não é mais que um penitente." Bela imagem das
dignidades terrestres deixadas à beira do túmulo, para se apresentar a Deus tal qual é, sem
a aceitação que dela impunha aos homens.
Espíritas, perdoai-lhe o mal que quis nos fazer, como gostaríamos que nossas ofensas nos
fossem perdoadas, e oremos por ele no aniversário do auto-de-fé a 9 de outubro de 1861.

sábado, 22 de novembro de 2008

O CONSOLADOR PROMETIDO




Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro consolador, para que fique eternamente convosco, o Espírito de Verdade, a quem o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece. Mas vós o conhecereis, porque Ele ficará convosco e estará em vós. - Mas o Consolador, que é o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito. (João, XIV: 15 a 17; 26.)
Jesus promete outro Consolador: é o Espírito de Verdade, que o mundo ainda não conhece, pois que não está suficientemente maduro para compreendê-lo, e que o Pai enviará para ensinar todas as coisas e para fazer lembrar o que o Cristo disse. Se, pois, o Espírito de Verdade deve vir mais tarde, ensinar todas as coisas, é que o Cristo não pode dizer tudo. Se ele vem fazer lembrar o que o Cristo disse, é que o seu ensino foi esquecido ou mal compreendido.
O Espiritismo vem, no tempo assinalado, cumprir a promessa de Cristo: o Espírito de Verdade preside o seu estabelecimento. Ele chama os homens à observância da lei; ensina todas as coisas, fazendo compreender que Cristo só disse em parábolas. O Cristo disse: "que ouçam os que têm ouvidos para ouvir". O Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porque ele fala sem figuras e alegorias. Levanta o véu propositadamente lançado sobre certos mistérios, e vem, por fim, trazer uma suprema consolação aos deserdados da Terra e a todos os que sofrem, ao dar uma causa justa e um objetivo útil a todas as dores.
Disse o Cristo: "Bem-aventurados os aflitos, porque eles serão consolados". Mas como se pode ser feliz por sofrer, se não se sabe por que se sofre? O Espiritismo revela que a causa está nas existências anteriores e na própria destinação da Terra, onde o homem expia o seu passado. Revela também o objetivo, mostrando que os sofrimentos são como crises salutares que levam à cura, são a purificação que assegura a felicidade nas existências futuras. O homem compreende que mereceu sofrer e acha justo o sofrimento. Sabe que esse sofrimento auxilia o seu adiantamento e o aceita sem queixas, como o trabalhador aceita o serviço que lhe assegura o salário. O Espiritismo lhe dá uma fé inabalável no futuro, e a dúvida pungente não tem mais lugar na sua alma. Fazendo-o ver as coisas do alto, a importância das vicissitudes terrenas se perde no vasto e esplêndido horizonte que ele abarca, e a perspectiva da felicidade que o espera lhe dá a paciência, a resignação e a coragem para ir até o fim do caminho.
Assim realiza o Espiritismo o que Jesus disse do Consolador Prometido: conhecimento das coisas, que faz o homem saber de onde vem, para onde vai e por que está na Terra, lembrança dos verdadeiros princípios da lei de Deus e consolação pela fé e pela esperança
ADVENTO DO ESPÍRITO DE VERDADE - ESPÍRITO DE VERDADE - PARIS, 1860
Venho, como outrora, entre os filhos desgarrados de Israel, trazer a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me, O Espiritismo, como outrora a minha palavra, deve lembrar aos incrédulos que acima deles reina a verdade imutável: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinar as plantas e que levanta as ondas. Eu revelei a doutrina divina; e, como um segador, liguei em feixes o bem esparso pela humanidade, e disse: "Vindes a mim, todos vós que sofreis!".
Mas os homens ingratos se desviaram da estrada larga e reta que conduz ao Reino de meu Pai, perdendo-se nas ásperas veredas da impiedade. Meu Pai não quer aniquilar a raça humana. Ele quer que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, ou seja, mortos segundo a carne, porque a morte não existe, sejais socorridos, e que, não mais a voz dos profetas e dos apóstolos, mas a voz dos que se foram, faça-se ouvir para vos gritar: Crede e orai ! Porque a morte é a ressurreição, e a vida é a prova escolhida, durante a qual vossas virtudes cultivadas devem crescer e desenvolver-se como o cedro.
Homens fracos, que vos limitais às trevas de vossa inteligência, não afasteis a tocha que a clemência divina vos coloca nas mãos, para iluminar vossa rota e vos reconduzir, crianças perdidas, ao regaço de vosso Pai. Estou demasiado tocado de compaixão pelas vossas misérias, por vossa imensa fraqueza, para não estender a mão em socorro aos infelizes extraviados que, vendo o céu, caem nos abismos do erro. Crede, amai, meditai todas as coisas que vos são reveladas; não mistureis o joio ao bom grão, as utopias com as verdades.
Espíritas: amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo. Todas as verdades se encontram no Cristianismo; os erros que nele se enraizaram são de origem humana; e eis, que, de além-túmulo, que acreditáveis fazio, vozes vos clamam: Irmãos " Nada perece. Jesus Cristo é o vencedor do mal; sede os vencedores da impiedade !"
O ESPIRITISMO COMO CONSOLADOR PROMETIDO
E A CODIFICAÇÃO POR ALLAN KARDEC
O Espiritismo, ou o Consolador Prometido, surge no horizonte terrestre, em meados do século XIX, como a Terceira Revelação. No século XIII a.C., Moisés trouxe para a Humanidade a Primeira Revelação, materializando a idéia do Deus Único (já ensinada por Abraão, o grande patriarca hebreu, cerca de 600 anos antes). Moisés promulgou a lei do Monte Sinai, lançando os fundamentos da verdadeira fé, como grande médium que era. Como homem, foi o legislador eficiente, que organizou a sociedade da época, procurando livrá-la dos erros do politeísmo.
Após Moisés, veio Cristo, encarnando a Segunda Revelação, e acrescentou à essência dos ensinamentos mosaicos a idéia da vida futura, estranha ao contexto do pentateuco, bem como as penas e recompensas que esperam o homem depois da morte. Jesus faz encarar a divindade de um ponto de vista totalmente novo: "não é mais o Deus que quer ser temido, mas o Deus que quer ser amado". Jesus, então, resume o Decálogo num mandamento maior - o amor a Deus, acima de todas as coisas - e num menor, semelhante àquele - o amor ao próximo - e estabelece assim as bases da Religião Cósmica (Universal).
A Doutrina dos Espíritos, como Terceira Revelação, é o Cristianismo Redivivo. A revelação espírita possui um duplo caráter, visto que participa, ao mesmo tempo, da revelação divina e da revelação científica, as duas vias que levam o homem ao verdadeiro conhecimento. Nas palavras de Kardec, "o que caracteriza a revelação espírita é que sua origem é divina, que a iniciativa pertence aos Espíritos e que a sua elaboração é o resultado do trabalho do homem".


NESTÓRIO CÂNDIDO

PALINGENESIA

(Eterno Retorno)
Que vem a ser, neste sistema, o vosso conceito de Divindade? Compreendeis que Deus não pode ser algo mais e exterior à criação, ou distinto dela; que só o homem que está no relativo pode acrescentar a si, ou devenir além de si, não Deus, que é o absoluto. Vossa concepção de um Deus que cria fora e além de si, acrescentando algo a si mesmo, é absurda concepção antropomórfica, é querer reduzir o absoluto ao relativo. Não pode haver criação no absoluto. Só no relativo pode haver nascimento e transformação. O absoluto simplesmente “é”.
Não queirais restringir a Divindade aos limites de vossa razão;
não vos eleveis a juízes e à medida do todo;
não projeteis no infinito as pequeninas imagens de vosso finito;
não ponhais limites ao absoluto.
Em sua essência, Deus está além do universo de vossa consciência, além dos limites de vosso concebível. É irreverência aviltar esse conceito para querer compreendê-Lo. Constituindo-vos em medida das coisas, colocais como sobrenatural e miraculoso qualquer fato novo para vossas sensações, tudo o que exorbite do que sabeis e conheceis. Mas, a natureza é expressão divina e não pode haver nada acima dela, nenhum acréscimo, nenhuma exceção, nenhuma correção à
Lei.
Sobrenatural e milagre são conceitos absurdos diante do absoluto, aceitáveis apenas em vosso relativo, aptos a exprimir vosso assombro diante do que é novo para vós e nada mais. Neles está contida a idéia de limite e de seu superamento; conceitos inaplicáveis à Divindade. Esta é superior a qualquer prodígio e o exclui como exceção, como retorno ao que já está feito, como retoque ou arrependimento e, sobretudo, como vontade de desordem no equilíbrio da lei estabelecida. Limitai a vós mesmos esses conceitos e não vos julgueis centro do universo. Guardai para vós os conceitos de tempo, de espaço, de quantidade, de medida, de movimento, de perfectibilidade. Não deveis medir a Divindade como medis a vós mesmos; não tenteis defini-La, muito menos com aquilo que serve para definir-vos a vós mesmos, por multiplicação e expansão de vosso concebível. Se quereis somar ao infinito vossos superlativos, dizei ao infinito: isto ainda não é Deus. Seja Deus para vós uma direção, uma aspiração, uma tendência; seja para vós a meta. Se Deus está no infinito — inconcebível para vós em sua essência — nosso finito dele se avizinha por aproximações conceptuais progressivas. Vede como na
Terra cada um adora a representação máxima da Divindade que pode conceber, e como, no tempo, essa aproximação se dilata. Do politeísmo ao monoteísmo e ao monismo verificais o progresso de vossa concepção, que é proporcional à vossa força intelectiva e progride com ela. A luz aparece mais intensa à proporção que o olhar se torna mais penetrante. O mistério subsiste, mas empurrado cada vez para mais longínquos horizontes. Por mais que este se dilate, haverá sempre um horizonte mais afastado para atingir. Ao verificar vossa relatividade que progride, eu não destruo o mistério, mas o enquadro no todo e dele dou a justificação racional, torno-o um mistério relativo, que só existe pela limitação de vossas capacidades intelectivas, que recua continuamente diante da luz, em função do caminho das verdades progressivas; um mistério fechado dentro dos limites que a evolução ultrapassa dia a dia. Se a divindade é um princípio que exorbita vossos limites conceptuais, ela lá está a esperar-vos; para revelar-se, espera vossa maturação. Hoje, que finalmente vossa mente está amadurecendo, não é mais lícito, como no passado, “reduzir” aquele conceito a proporções antropomórficas. Hoje, eu já trouxe ao vosso relativo nova e maior aproximação; projetei em vossas mentes a maior imagem que as humanidades futuras terão de Deus. Este é um canto mais alto de sua glória. Isto não é irreligiosidade, mas ao invés, pela maior exaltação de Deus, é religiosidade mais profunda. Não procureis Deus apenas fora de vós, tornando-O concreto em imagens e expressões de matéria, mas O “sentis”, sobretudo, em sua forma de maior poder dentro de vós, na idéia abstrata, estendendo os braços para o universo do espírito, que vos aguarda.

REENCARNAÇÃO

RENASCER - CONCEITO
Conhecida como Palingenesia entre os povos da Antigüidade e ora denominada Metensomatose pelos modernos investigadores, a reencarnação significa o retornar do espírito ao corpo tantas vezes quantas se tornem necessárias para o autoburilamento, libertando-se das paixões e adquirindo experiências superiores, sublimando as expressões do instinto ao tempo em que desenvolve a inteligência e penetra nas potencialidades transcendentes da intuição. É o renascimento no corpo físico.
A reencarnação é a mais excelente demonstração da Justiça Divina, em relação aos infratores das Leis, na trajetória humana, facultando-lhes a oportunidade de ressarcirem numa os erros cometidos nas existências transatas.
A evolução é impositivo da Lei de Deus, incessante, inquestionável. Nessa Lei não existe o repouso, o letargo das forças, a inércia. Por toda parte e sempre o impositivo da evolução, o imperativo do progresso.
Desde a mais débil expressão anímica que a vida, dormente, sonha e espera, até a angelitude em que fomenta e frui a felicidade e o amor, o progresso se faz imperioso.
O estacionamento, a parada, representaria o caos.
Ininterruptamente as conquistas que se acumulam, jazendo, às vezes, embrionárias ou adormentadas, num ciclo carnal, se desenvolvem noutro; ou, quando entorpecidas transitoriamente na investidura somática, se desdobram, valiosas, além da constrição celular.
A reencarnação enseja, mediante processo racional, a depuração do espirito que evolve, contribuindo simultaneamente para o aperfeiçoamento e a sutilidade da própria organização física, nos milênios contínuos da evolução.
Aceita logicamente por uns e anatematizada por outros, dentre os mais eminentes religiosos e pensadores da Humanidade, tem as suas bases assentes nos impositivos da Sabedoria de Nosso Pai que tudo estabeleceu em diretrizes consentâneas com as necessidades da Sua Obra.
Estruturada em princípios igualitários a todos concedidos em circunstâncias equivalentes, estatui como base o amor e esparze a misericórdia, em convites de excelsa probidade, para os náufragos das realizações malogradas, que têm necessidade de recomeço para avançarem na direção do êxito que a todos nos aguarda.
HISTÓRICO
Revelada pelos Espíritos - seus lídimos divulgadores - desde os primórdios das experiências nos Santuários da iniciação esotérica do passado longínquo, constituiu o alicerce das Religiões do pretérito, que nela hauriram as mais relevantes bênçãos de consolação e esperança para os seus adeptos, norteando-os com segurança pelas trilhas da elevação.
Pode-se mesmo afirmar que a sua é a história da evolução do pensamento religioso, que nas imarcescíveis nascentes da mediunidade encontrou a informação segura dos sucessivos renascimentos, como eficiente veículo de evolução.
Na Índia, desde remotíssima antigüidade, de que nos dão notícias os Vedas e o Bhagavad-Gitâ, o conhecimento da reencarnação era sobejamente divulgado através dos cantos imortais da formação moral e cultural do homem.
Difundida amplamente entre os orientais, foi Pitágoras quem a introduziu na cultura grega, após tê-la absorvido dos esoteristas egípcios e persas, nas contínuas viagens realizadas, que visavam buscar melhores informações para o enigma da vida nos seus multifários mistérios.
Não obstante oferecessem os egípcios uma concepção especial, através do que consideravam a Metempsicose, ou reencarnação do espírito humano em forma animal, subentende-se que tal concepção era conseqüência de errônea interpretação do fenômeno da zoantropia, decorrente da perturbação espiritual em que muitas Entidades infelizes se apresentavam nos Cultos, traduzindo as punições que experimentavam por deformação do uso das funções orgânicas e psicológicas engendrando auto-suplícios apenas transitórios, na Erraticidade. Nesse sentido, mesmo Heródoto, o "pai da História", ensinando a Doutrina das Vidas Sucessivas, supunha que a Metempsicose fosse uma punição necessaria ao espírito calceta, o que, se assim o fora, violaria a lei incessante da evolução com um retrocesso à fase animal.
Sófocles como Aristófanes adotaram a crença na reencarnação.
Platão divulgou-a, fundamentando o seu ensino nas informações pitagóricas. Posteriormente, os neoplatônicos, tais Orígenes, Tertuliano, Jâmblico, Pórfiro, discípulo e herdeiro de Plotino, consideravam a reencarnação como sendo o único meio capaz de elucidar os problemas e enigmas com que defrontavam no exame da Filosofia e na interpretação das necessidades humanas.
Virgílio e Ovídio, os eminentes pensadores romanos, impregnaram-se das suas excelentes lições, difundindo-as largamente. Os druidas apoiavam todos os seus ensinos na justiça da Palingenesia. Os hebreus aceitavam-na, adotando-a sob o nome de Ressurreição, de que a Bíblia nos dá reiteradas confirmações.
Nas experiências medievais, em que a cultura se deteve esmagada, fez-se que desaparecesse temporariamente, apesar de cultuada por alguns raros estudiosos, para que Allan Kardec, ainda pela revelação dos Espíritos, novamente a trouxesse à Terra, na mais comovente demonstração confirmativa do Consolador, consoante o prometera Jesus.
Muitos pensadores medievais adotaram a conceituação das vidas sucessivas, entregando-se às pesquisas mediante as quais não poucas vezes pagaram o atrevimento com a própria vida, em se considerando a intolerância e ignorância então vigentes em torno dos problemas espirituais.
Incontáveis pessoas se hão surpreendido em face das lembranças das vidas passadas, em que mergulham inconscientemente, experimentando nas evocações os estados emocionais caracteristicos das personagens que antes animaram. Da sistemática recordação, com os sucessivos mergulhos nas lembranças do passado, muitos têm sido vítima de distonias de vária ordem, perturbando-se, sem conseguirem estabelecer os limites entre os fatos de uma e de outra existência: a do passado, que retorna vigorosa, e a do presente, que se vai submetendo ao impositivo da outra.
Na vida infantil, porque o espírito ainda se encontra em processo de fixação total nas células, apropriando-se do campo somático, a pouco e pouco, surgem freqüentemente nos diversos campos da Arte, da Filosofia, da Ciência e da Religião os que externam precocidade surpreendente, revelando conhecimentos superiores aos do tempo em que vivem ou recordando os ensinamentos aprendidos anteriormente.
A memória da aprendizagem e dos fatos não se perde nunca, pois que esta não é patrimônio das células cerebrais, que as traduzem, estando incorporada ao perispírito, que a fixa, acumulando as experiências das múltiplas existências, mediante as quais o Espírito evolute, nas diversas faixas que se lhe fazem necessárias.
Crianças houve que foram capazes de se expressar corretamente em diversos idiomas, desde os dois anos de idade, sem os terem aprendido.
Incontáveis crianças também revelaram pendor musical, compondo e interpretando peças clássicas antes que pudessem segurar um violino, ou dispor de mobilidade para uma oitava no teclado de um piano. Escultores deslumbraram seus mestres em plena idade infantil.
Assim também, matemáticos, astrônomos, físicos modernos evocam da última reencarnação quanto aprenderam e agora retornam a ampliar, ainda mais, as suas aquisições para serem aplicadas a serviço da Humanidade.
No passado, Jean Baratier, que desencarnou com a idade de dezenove anos, vítima de "cansaço cerebral", falava corretamente diversos idiomas. Aos nove anos escreveu um dicionário, com larga complexidade etimológica.
William Hamilton com apenas três anos estudou o hebraico. Mais tarde, aos doze anos, conhecia 12 idiomas que falava corretamente.
Outros - como no caso de Jaques Criston, que conseguia discutir utilizando-se do latim, grego, árabe, hebraico, sobre as mais diversas questões, com tranqüilidade - fizeram-se célebres. Henri de Hennecke, com dois anos, expressava-se em três línguas ...
Volumosa é a literatura sobre o assunto, não somente na xenoglossia como em diversos ramos do Conhecimento.
As evocações das vidas passadas independem da idade em que podem ocorrer. Naturalmente que na primeira infância são mais repetidas as lembranças da reencarnação anterior, pela facilidade com que o espírito, não totalmente interpenetrado pelas células físicas, conserva a memória das ocorrências guardadas.
No presente, as experiências de regressão da memória, pela hipnologia, vêm trazendo larga e valiosa contribuição ao estudo da reencarnação, pelas largas possibilidades de comprovação de que se podem dispor, ampliando grandemente o campo das observações e provas.
REENCARNAÇÃO E JESUS
Foi Jesus, indubitavelmente, quem melhor afirmou a necessidade da reencarnação, a fim de que o homem possa atingir o Reino de Deus.
Em seu diálogo com Nicodemos (João, 3:1-14) asseverou iniludivelmente que o retorno à organização física para reparar e aprender, nascendo "do corpo e do espírito", repetindo as experiências que a necessidade impõe para a própria redenção. Não obstante Nicodemos interrogar: como tal seria possível, retornar ao ventre materno?, o Senhor assegurou-o, interrogando-o, a seu turno: como seria crível que ele, doutor em Jerusalém, ignorasse aquilo, que era conhecido pelos estudiosos e profetas?!
Interpretou-se por longos anos, erradamente, que o batismo produziria o renascimento do homem.
O Senhor, porém, foi incisivo quanto ao retorno à vida física.
Os modernos conhecimentos científicos atestam que as primeiras formas de vida, desde a concepção, se fazem em ambiente aquoso, seja a própria constituição do gameta feminino como o masculino, de cuja fusão (água) nasce o novo corpo, que, adquirindo personalidade diversa da que possuía antes (espírito), recomeça o cadinho purificador, expungindo males e sublimando experiências para "entrar no Reino dos Céus".
Posteriormente, respondendo às perguntas dos discípulos (Mateus, 17:10-13), ao descer do Tabor, após a Transfiguração, reiterou que o Elias esperado, "aquele que havia de vir, já viera", facultando aos discípulos que entenderam ser de "João Batista que Ele falara".
Somente pela reencarnação e não através da ressurreição João Batista poderia ser Elias, o Profeta querido de Israel.
Considerando a severidade com que Elias tratara os adoradores do deus Baal, mandando-os passar a fio de espada, pela espada padeceu, ao impositivo das paixões de Herodíades e do terrivel medo do reizete Heródes.
Jesus não modificou nem o ensino dos profetas nem o estabelecido pela Lei Antiga. Antes adotou-os, acrescentando a sublime Lei do Amor, como sendo a única que poderia facultar ao homem a paz e a felicidade almejadas, propiciando-lhes desde a Terra o sonhado Reino de Deus.
Através da reencarnação mais se afirmam os laços de família, generalizando-se o amor em caráter universalista, em detrimento do egoísmo decorrente dos laços do sangue e da carne. Os Espíritos recomeçam as jornadas interrompidas onde melhor encontram as condições para a melhoria íntima, volvendo aos mesmos sítios da consangüinidade, quando ali podem usufruir benefícios de reajustamento famílial ou de maior progresso espiritual.
Esquecendo-se temporariamente das razões matrizes do amor ou do ódio, como do impositivo do resgate nas aflições e dores de vário porte, o Espírito frui a bênção de ter diminuídos os móveis através dos quais fracassou ou se permitiu fascinar, reencetando as tarefas, por tendências, afinidades ou desagrados que motivaram aproximação ou repulsa das pessoas com as quais é convidado a viver. Sejam quais forem, porém, os motivos da simpatia ou da antipatia, a cada um cabe superar as dificuldades e vencer as animosidades, a fim de lograr êxito no empreendimento reencarnacionista, sem o que todo tentame redundaria como improfícuo, senão pernicioso.
O transitório esquecimento do passado facilita os recomeços, ensejando mais amplas possibilidades ao entendimento e à cordialidade. Lembrasse-se o Espírito dos motivos da antipatia ou do amor, vincular-se-ia apenas aos seres simpáticos, afastando-se daqueles por quem se sentiu prejudicado, complicando, indefinidamente, a libertação das causas infelizes do fracasso.
Assim, o filho revel retorna na condição de pai, a esposa ultrajada volve como mãe abnegada, o criminoso odiento reinicia ao lado da vítima antiga, o infrator da existência física, autocida, reencarna com as limitações que ocasionou, mediante o atentado perpetrado contra a organização somática. A cerebração mal aplicada redunda em idiotia irreversível e a impiedade, o ultraje, o abuso de qualquer natureza constróem o suplício da miséria, física ou moral, como medida educadora de que necessita o defraudador.
Merece considerar, ainda, que em cada dia surgem oportunidades novas que facultam ao homem fazer e refazer, aprimorando-se sem cessar, olvidando o mal e adicionando o bem às próprias aquisições com que se prepara para a libertação íntima e intransferível. Por isso é a atual oportunidade, para cada um que se encontra no labor da carne, bênção de realce que não pode ser malbaratada sem consequências lamentáveis, de que só tardiamento compreenderá em toda sua complexidade.
Seja qual for a situação em que te encontres, agradece a Deus a atual conjuntura expiatória ou provacional, utilizando-te do tempo com sabedoria e discernimento, de modo a construíres o futuro, desde que o presente se te afigure afligente ou doloroso.
O que hoje possuis vem de ontem, podendo edificar para o amanhã, através do uso que faças das faculdades ao teu alcance.
Qualquer corpo, mesmo quando mutilado ou limitado, assinalado por enfermidades ultrizes e rigorosas, constitui concessão superior que a todos cabe zelar e cultivar, desdobrando recursos e entesourando aquisições, mediante os quais poderá planar logo mais nas Regiões Felizes, livre dos retornos dolorosos e recomeços difíceis.

CONHECE-SE A ÁRVORE PELOS FRUTOS

CONHECE-SE A ÁRVORE PELOS FRUTOS


1. Porque não é boa árvore a que dá maus frutos, nem má árvore a que dá bons frutos. Porquanto cada árvore é conhecida pelo seu fruto. Porque nem os homens colhem figos dos espinheiros, nem dos abrolhos vindimam uvas. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, do mau tesouro tira o mal. Porque, do que está cheio o coração, disso é que fala a boca. (Lucas VI: 43-45.)


2. Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós com vestidos de ovelhas, e por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis. Por ventura os homens colhem uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa dá bons frutos, e a árvore má dá maus frutos. Não pode uma árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar bons frutos. Toda árvore que não dá bons frutos será cortada e lançada ao fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis. (Mateus, VII: 15-20.)


3. E respondendo Jesus, lhes disse: Vede, não vos engane alguém; porque virão muitos em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos. — E levantar-se-ão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos. E porquanto multiplicar-se-á a iniquidade, se resfriará a caridade de muitos. Mas o que perseverar até o fim, esse será salvo. — Então, se alguém vos disser: Olhai, aqui está o Cristo; ou, ei-lo acolá, não lhe deis crédito. Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, que farão grandes prodígios, e maravilhas
tais, que, se fora possível, até os escolhidos se enganariam. (Mateus, XXI V:j 4-5, 11-13, 23-24, e semelhante em Marcos, XIII: 5-6, 21-22.)


MISSÃO DOS PROFETAS


4. Atribui-se geralmente aos profetas o dom de revelar o futuro, maneira que as palavras profecia e predição se tornaram sinónimas. No sentido evangélico, a palavra profeta tem uma significação mais ampla, aplicando-se a todo enviado de Deus, com a missão de instruir os homens e de lhes revelar as coisas ocultas, os mistérios da vida espiritual. Um homem pode, portanto, ser profeta, sem fazer predições. Essa era a idéia dos judeus, no tempo de Jesus. Eis porque, ao ser levado perante o sumo sacerdote Caifás, os Escribas e os Anciãos, que estavam ali reunidos, lhe cuspiram no rosto e lhe deram socos e bofetadas, dizendo: "Cristo,' profetiza, e dize quem foi que te bateu." Houve profetas, entretanto, tiveram a preciência do futuro, seja por intuição ou por revelação providencial, a fim de transmitirem advertências aos homens. Como essas, predições se realizaram, o dom de predizer o futuro foi considerado como um dos atributos da qualidade de profeta.


PRODÍGIOS DOS FALSOS PROFETAS

5. "Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, que farão prodígios e sinais espantosos, para enganarem até mesmo os escolhidos."' Essas palavras dão o verdadeiro sentido da palavra prodígio. Na acepção teológica, os prodígios e os milagres são fenómenos excepcionais, que escapam às leis da natureza. Estas leis, tendo sido. estabelecidas exclusivamente por Deus, não há dúvida que podem ser derrogadas por Ele, quando lhe aprouver. O simples bom senso nos diz, porém, que Ele não pode haver conferido a seres inferiores e perversos um poder igual ao seu, e menos ainda o direito de desfazerem o que Ele fez..

Jesus não podia consagrar esse princípio. Se acreditarmos, portanto, segundo o sentido que se atribui àquelas palavras, que o Espírito do Mal tem o poder de fazer tais prodígios, que até mesmo os escolhidos seriam enganados, disso resultaria que, podendo ele fazer o mesmo que Deus faz, os prodígios e os milagres não são privilégio exclusivo dos enviados, de Deus, e por isso nada provam, desde que nada distingue os milagres dos santos dos milagres dos demónios. Ë, pois, necessário buscarmos um sentido mais racional para aquelas palavras.


Aos olhos do povo, todo fenômeno, cuja causa é desconhecida, passa por sobrenatural, maravilhoso e miraculoso. Conhecida a causa, reconhece-se que o fenômeno, por mais extraordinário que pareça, não é mais do que a aplicação de uma determinada lei da natureza. É assim que a área dos fatos sobrenaturais se restringe, à medida que se amplia a das leis científicas. Desde todos os tempos, certos homens exploram, em proveito de sua ambição, de seus interesses e de seu desejo de dominação, certos conhecimentos que possuíam, para conseguirem o prestígio de um poder supostamente sobre humano ou de uma pretensa missão divina.


São esses os falsos cristos e os falsos profetas. A difusão dos conhecimentos vem desacreditá-los, de maneira que o seu número diminui, à medida que os homens se esclarecem. O fato de operarem aquilo que, aos olhos de algumas pessoas, parece prodígio não é, portanto, nenhum sinal de missão divina. Esses prodígios podem resultar de conhecimentos que qualquer um pode adquirir, ou de faculdades orgânicas especiais, que tanto o mais indigno como o mais digno podem possuir. O verdadeiro profeta se reconhece por características mais sérias exclusivamente de ordem moral.


NÃO ACREDITEIS EM TODOS OS ESPÍRITOS

6. Caríssimos, não acrediteis em todos os Espíritos, mas provai se os espíritos são de Deus, porque são muitos os falsos profetas que se levantaram no mundo. (João, Epístola I, cap. IV: 1.)


7. Os fenómenos espíritas, longe de confirmarem os falsos cristos e os falsos profetas, como algumas pessoas gostam de dizer, vem, pelo contrário, dar-lhes o último golpe. Não soliciteis milagres nem prodígios ao Espiritismo, porque ele declara formalmente que não os produz. Da mesma maneira que a Física, a Química, a Astronomia, a Geologia, revelaram as leis do mundo material, ele vem revelar outras leis desconhecidas, que regem as relações do mundo corpóreo com o mundo espiritual. Essas leis, tanto quanto as científicas, pertencem à natureza. Dando, assim, a explicação de uma
ordem de fenómenos até agora incompreendidos, o Espiritismo destrói o que ainda restava do domínio do maravilhoso.


Como se vê, os que fossem tentados a explorar esses fenómenos em proveito próprio, fazendo-se passar por enviados de Deus, não poderiam abusar por muito tempo da credulidade alheia, e bem logo seriam desmascarados. Aliás, como já ficou dito, esses fenómenos nada provam por si mesmos: a missão se prova por efeitos morais, que nem todos podem produzir. Esse é um dos resultados do desen­volvimento da ciência espírita, que, pesquisando a causa de certos fenómenos, levanta o véu de muitos mistérios. Os que preferem a obscuridade à luz, são os únicos interessados em combatê-la. Mas a verdade é como o sol: dissipa os mais densos nevoeiros.


O Espiritismo vem revelar outra categoria de falsos cristos e de falsos profetas, bem mais perigosa, e que não se encontra entre os homens, mas entre os desencarnados. É a dos Espíritos enganadores, hipócritas, orgulhosos e pseudo-sábios, que passaram da terra para a erraticidade, e se disfarçam com nomes veneráveis, para procurar, através da máscara que usam, tornar aceitáveis as suas idéias, frequentemente as mais bizarras e absurdas. Antes que as relações mediúnicas fossem conhecidas, eles exerciam a sua ação de maneira mais ostensiva, pela inspiração, pela mediunidade inconsciente, auditiva ou de incorporação.

O número dos que, em diversas épocas, mas, sobretudo, nos últimos tempos, se apresentaram como alguns dos antigos profetas, como o Cristo, como Maria, sua mãe, e até mesmo como Deus, é considerável. São João nos põe em guarda contra eles, quando adverte: "Meus bem-amados, não acrediteis em todos os Espíritos, mas provai se os Espíritos são de Deus; porque muitos falsos profetas se têm levantado no mundo." O Espiritismo nos oferece os meios de experimentá-los, ao indicar as características pelas quais se reconhecem os Bons Espíritos, características sempre morais e jamais materiais. É, sobretudo, ao discernimento dos Bons e dos Maus Espíritos, que podemos aplicar as palavras de Jesus: "Reconhece-se a árvore pelos seus frutos; uma boa árvore não pode dar maus frutos, e uma árvore má não pode dar bons frutos." Julgam-se os Espíritos pela qualidade de suas obras, como a árvore pela qualidade de seus frutos.

ESE, cap. XXI

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O EPISÓDIO DE HYDESVILLE

O EPISÓDIO DE HYDESVILLE

HYDESVILLE, vilarejo situado próximo da cidade de Rochester, rio condado de Wayne, no Estado de Nova lorque, nos Estados Unidos, passou à História como o berço do Novo Espiritualismo, ou seja, o Espiritismo dos povos de língua inglesa.

Numa tosca cabana residia uma família protestante composta de:

  • John Fox,

  • sua mulher Margareth

  • e as filhas menores Margareth e Catherine (Kate)

Cabana na qual moraram, antes deles, os esposos Bell e sua criada Lucrécia Pelves.

Nessa modesta residência se verificaram fatos estranhos, que alarmaram seus moradores e toda a vizinhança: ruídos, pancadas, batidas, punham todos em desassossego. Ninguém descobria sua origem.

As filhas do casal Fox, Margareth e Kate e ainda a mais velha, Lia, casada, eram médiuns. Kate, de 11 anos, no dia 31 de março de 1848, quando as pancadas (em inglês chamadas “raps”) se tornaram mais persistentes e fortes, resolveu desafiar o mistério, travando-se um diálogo com o que todos julgavam fosse o diabo:

“Senhor Pé-rachado, faça o que eu faço, batendo palmas”.

Imediatamente se ouviram pancadas, em número igual ao das palmas. A sra. Margareth, animada, disse, por sua vez:

“Agora faça exatamente como eu. Conte um, dois, três, quatro.”

Logo se fizeram ouvir as pancadas correspondentes.

“É um espírito?”, perguntou, em seguida. “Se for, dê duas batidas.”

A resposta, afirmativa, não se fez esperar.

“Se for um espírito assassinado, dá duas batidas. Foi assassinado nesta casa?”

Duas pancadas estrepitosas se fizeram ouvir.

Estabelecera-se assim, naquele memorável 31 de março de 1848, a telegrafia espiritual e hoje, em Lily Dale, no Estado de Nova lorque, a tosca cabana é admirada como relíquia histórica e uma placa assinala a data considerada a do nascimento do Novo

Espiritualismo.

Um vizinho dos Fox, de nome Duesler, usando o alfabeto para obter respostas mais rápidas, conseguiu saber:

  • o nome do assassino (o sr. Bell),

  • o móvel do crime (roubo do dinheiro e coisas do assassinado, um mascate, Charles B. Rosma ou Joseph Ryan),

  • o local (o quarto leste da casa),

  • a data (havia 5 anos, à meia noite de uma terça-feira)

  • e o modo como se dera o crime (a golpes de faca de açougueiro, na garganta, sendo o corpo levado para a adega).

Graças ao depoimento de Lucrécia Pelves, criada dos Bell, Davi Fox e outros desceram à adega, onde cavaram, encontrando tábuas, alcatrão, cal e cabelos humanos, bem como utensílios do mascate. Seu corpo, todavia, só apareceu em 1904 (56 anos depois), quando uma parede da casa ruiu, assustando crianças que brincavam perto e deixando a descoberto o esqueleto do morto, inclusive uma lata, de seu uso, hoje ainda guardada em Hydesville.

Assim, os fatos vieram confirmar a estranha denúncia de um morto, que saía das trevas para relatar a ação criminosa de que fora vítima, há anos.

Entretanto, é preciso considerar o episódio em suas verdadeiras finalidades, porque inúmeros crimes semelhantes se dão e nem por isso as vítimas os denunciam, de modo semelhante. Nem a finalidade da comunicação era a punição do culpado (que disso se encarregam, sempre, as leis divinas), porque à pergunta sobre se o assassino podia ser punido pela lei, se podia ser levado ao Tribunal, nenhuma resposta foi dada.

É para unir a humanidade e convencer as mentes céticas da imortalidade da alma”, disseram os Espíritos; era de fato o início de um movimento de caráter quase universal, tendente a despertar a Humanidade para a vida espiritual, que seria revelada, pouco depois, pela Codificação da Doutrina Espírita, tarefa gigantesca a ser realizada pelo grande missionário AIlan Kardec.

“Era como uma núvem psíquica, descendo do alto e se mostrando nas pessoas sucetíveis”, escreve A. Conan Doyle, em sua “História do Espiritismo”, porquanto os fatos insólitos (1), os “raps”, produzidos pelos espíritos batedores, se multiplicavam, despertando consciências através de mensagens apropriadas.

Grande número de adeptos das novas crenças fizeram realizar em Rochester, na Sala Coríntia (Corinthian HaIl) a primeira reunião pública, para exame e debate dos fatos, nomeando-se comissões para investigar sua veracidade. Nada menos de três tiveram de os confirmar.

Figuras notáveis dos Estados Unidos reconheceram a veracidade dos fenômenos, que honestamente não podiam negar: o Governador Tallmadge e o Juiz Edmons, cuja filha Laura se tornou depois médium notável de xenoglossia (mediunidade poliglota).

Entretanto, a reação das trevas foi grande, graças, sobretudo, ao meio intolerante em que se davam os fenômenos, numa sociedade de protestantes e numa época de obscuridade. As irmãs Fox, certa vez, quase foram linchadas no teatro, que tiveram de deixar às escondidas.

Muito sofreram os médiuns, por meio dos quais, como sabemos, realizam-se os fenômenos e as irmãs Fox não constituiriam exceção.

Contudo, diz o Prof. José Jorge, no opúsculo “Dos RAPS de Hydesville até Allan Kardec: “Cumpre consignar aqui a envergadura moral do casal Fox que, contrariados e perseguidos pela Igreja Metodista a que pertenciam, preferiram de lá ser expulsos, a negar os fenômenos espíritas, ou a abdicar da verdade de que foram testemunhas”.

Como queriam os Espíritos, o acontecimento repercutiria na Europa, despertando as consciências e, ao lado dos fenômenos das “Mesas Girantes”, prepararia o advento do ESPIRITISMO.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

RESUMO DA TEORIA DA ORIGEM E DO DESTINO DO ESPÍRITO

Os cristãos, pelo menos os que eram, "excelentíssimos amigos de Deus", deviam ter conhecimento do sentido profundo (digamos "oculto") que havia nos ensinos e nas palavras de Jesus, assim como nos de toda a Antiga Escritura (da qual dizia Paulo que, àquela época, "ainda não fora levantado o véu", 2 Cor. 3:14) com referência à origem e destino da criatura humana.
Cada ensinamento e cada fato constituem, por si mesmos, uma alusão, clara ou velada, à orientação que Jesus deu à Humanidade, para que pudesse jornadear com segurança pela Terra.
Afastados de Deus, da Fonte de Luz (não por distância física, mas por freqüência vibratória muito mais baixa) , o Espírito tinha a finalidade de tornar a elevar sua freqüência, para novamente aproximar-se do Grande Foco de Luz Incriada.
Note-se bem que, estando Deus em toda parte e em tudo (Ef. 4:6) e em todos (1 Cor. 15:28), ninguém e nada pode jamais "separar-se" de Deus, donde tudo provém e no Qual se encontram todas as coisas, já que Deus é a substância última, a essência REAL de tudo e de todos. Tudo o que "existe", EST EX, ou seja, está de fora, exteriorizado, mas não "fora" de Deus, e sim DENTRO DELE.
Assim, a centelha divina, o "Raio de Luz", afastando-se do Foco - não por distanciamento físico, mas - por abaixamento de suas vibrações, chegou ao ponto ínfimo de vibrações por segundo, caindo no frio da matéria (de 1 a 16 vibrações por segundo). Daí terá novamente que elevar sua freqüência vibratória até o ponto de energia e, continuando sua elevação, até o espírito, e mais além ainda, onde nosso intelecto não alcança.
A criatura humana, pois, no estágio atual - a quem Jesus trouxe Seus ensinamentos - é uma Centelha- Divina, porque provém de Deus (At. 17:28, "Dele também somos geração"). Mas está lançada numa peregrinação pela Terra, numa jornada árdua para o Infinito. Na criatura, então, a essência fundamental é a Centelha-Divina, a Mônada: isso constitui nosso EU PROFUNDO ou EU SUPREMO, também denominado CRISTO INTERNO, que é a manifestação da Divindade.
(Ver:Evolução e corpo espiritual)
Ora, acontece que esse Raio-de-Sol (a Centelha-Divina) se torna o que chamamos um "Espírito", ao assumir uma individualidade.
Esse espírito apresenta tríplice manifestação ("à imagem e semelhança dos elohim", Gên. 1:26):
1 - a Centelha-Divina - o EU, o AMOR;
2 - a Mente Criadora - o Verbo, o AMANTE
3 - o Espírito Individualizado - o Filho, o AMADO, que é sua manifestação no tempo e no espaço.
Encontramos, pois, o ser humano constituído, fundamental e profundamente,
pela Centelha-Divina, que é o EU profundo (o "atma" dos hindus);
a mente criadora e inspiradora, que reside no coração (há 86 passagens no Evangelho que o afirmam categoricamente),
e a individualização, que constitui o Espírito, iluminado pela Centelha (hindu: "búdico") , com sua expressão "causal", porque é a causa de toda evolução.
Essa trípice manifestação da Mônada é chamada a INDIVIDUALIDADE ou o TRIÂNGULO SUPERIOR do ser humano atual.
Entretanto, ao baixar mais suas vibrações, esse conjunto desce à matéria ("torna-se carne", Jo. I: 14), manifestando-se no tempo e no espaço, e constituindo a PERSONALIDADE ou o QUATERNARIO INFERIOR, para onde passa sua consciência, enquanto se encontra "crucificada" no corpo físico.
É chamado "quaternário" porque se subdivide em quatro partes:
1 - o Intelecto (também denominado mente concreta, porque age no cérebro físico e através dele);
2 - o corpo astral, plano em que vibram os sentimentos e emoções;
3 - o duplo etérico, em que vibram as sensações e instintos;
4 - o corpo físico ou denso, que é a materialização de nossos pensamentos, isto é, dos pensamentos e desejos do Espírito, acumulando em si e exteriorizando na Terra, todos os efeitos produzidos pelas ações passadas do próprio Espírito.
Entre a Individualidade e a Personalidade, existe uma PONTE de ligação, através da qual a consciência "pequena" da Personalidade (única ativa e consciente no estágio atual das grandes massas humanas), pode comunicar-se com a consciência "superior" da Individualidade (que os cientistas começam a entrever e denominam, ora "superconsciente", ora "inconsciente profundo") . Essa ponte de ligação é chamada INTUIÇÃO.
Temos, então, no processo mental, três aspectos:
1 - o Pensamento criador, produzido pela Mente Inspiradora;
2 - o Raciocínio, produzido pelo cérebro físico, e que é puramente discursivo;
3 - a ligação entre os dois, que se realiza pela Intuição.
Podemos portanto definir a INTUIÇÃO como "o contato que se estabelece entre a mente espiritual (individualidade) e o intelecto (personalidade)". Em outras palavras: "é o afloramento do superconsciente no consciente atual".
INTUIÇÃO - ponte de ligação entre a mente e o intelecto, ou seja, entre a individualidade e a personalidade.

PRINCÍPIO ESPIRITUAL


Diz Sua Voz, em "A Grande Síntese":
No princípio era o movimento;
o movimento concentrou-se na matéria;
da matéria nasceu a energia;
e da energia emergirá o espírito"
O Princípio Espiritual, Crisálida de Consciência, nasce, por transformação, da extrema evolução da energia, no berço da matéria.
Há três momentos decisivos e divinos em que o transformismo evolutivo assinala triunfos definitivos (Esses três momentos foram magnificamente focados por Sua Voz em "A Grande Síntese"):
Ciclo evolutivo: matéria ® energia ® espírito
o do surgimento da matéria,
“De todas as partes do universo as correntes trazem sempre nova energia; o movimento toma-se sempre mais intenso, o vértice fecha-se em si mesmo, o turbilhão fica sendo um verdadeiro núcleo de atração dinâmica. Quando ele não pode sustentar no seu âmbito todo o ímpeto da energia acumulada, aparece um momento de máxima saturação dinâmica, um momento critico em que a velocidade fica sendo massa, estabiliza-se nos infinitos sistemas planetários íntimos, de que nascera o núcleo, depois o átomo, a molécula, o cristal, o mineral, os amontoados solares, planetários e siderais. Da tempestade imensa nasceu a matéria. Deus criou." (Ver: Nebulosas)
o do surgimento da energia
“Completada a maturação das formas de matéria, verificou-se também a expansão do vórtice galáxico, do centro para a periferia, o resfriamento e solidificação da matéria. Esta completou o ciclo de sua vida e a Substância, tomando novas formas, se muda lentamente, em individuações de mais elevado grau. A dimensão-espaço se eleva à dimensão-tempo. A matéria inicia uma transformação radical, doando todo o seu movimento tipo matéria ao movimento tipo energia. O vórtice nuclear do éter desenvolveu na fase matéria o vórtice atômico da matéria. Alcançado o máximo da dilatação, este vórtice continua a se expandir, desenvolvendo as formas dinâmicas, e nasce a energia. A substância continua a evolver, prosseguindo na energia a sua ascensão. A primeira emanação gravífica, de mínimo comprimento de onda e máxima freqüência vibratória, máxima velocidade de propagação no sistema dinâmico, completa-se com a emanação radioativa da desintegração atômica. O processo de transformação dinâmica, que tem sua raiz na evolução estequiogenética, isola-se, firmando-se decisivamente. O vórtice atômico despedaça-se e se dissolve expelindo progressivamente do sistema aqueles elétrons lá nascidos do sistema nuclear por igual expulsão. É um contínuo tornar-se em ato daquilo que existia em potencialidade, encerrado em gérmen por concentração de movimento. Nascem novas espécies dinâmicas; depois da gravitação e da radioatividade, aparecem as radiações químicas, a luz, o calor, a eletricidade.."
e o do surgimento do Princípio Espiritual.
O movimento, primeiro produto da evolução físico-dinâmica, é força centrífuga e tende, por isso, à difusão, à expansão, à desagregação da matéria. Expansão em todas as dimensões é, com efeito, a direção da evolução. Mas, de súbito, esta direção se inverte, pela lei de equilíbrio, em direção centrípeta, contra-impulso involutivo, e as forças de expansão completam-se com as de atração. Assim, a primeira explosão cinética encontra desde logo o seu ritmo; o princípio da Lei substitui a desordem, tão logo se manifesta, por uma nova ordem: o movimento equilibrase num par de forças antagônicas. Assim, a gravitação vos aparece como energia cinética da matéria e, como sua primogênita, se lhe torna tão inerente, tão intimamente conexa, que não vos é possível isolá-la. Assim, a matéria atrai a matéria, e o universo, formado por massas lançadas em todas as direções, e separadas por espaços imensos, é, não obstante isso, “ligado” todo, formando uma unidade indissolúvel; é mantido coeso e, ao mesmo tempo, movido por essa força, que é a sua circulação e o seu respiro físico. Ao aparecer, pois, da forma protodinâmica, é que o universo se move pela primeira vez, é que se geram os movimentos siderais, é que a gravitação passa a guiá-lo (a lei onipotente instantaneamente disciplina toda Sua manifestação) segundo o binário atração-repulsão, que compõe o binômio (+ e -, positivo e negativo) constitutivo de toda força, como de toda manifestação do ser. A substância adquire, na nova fase, a forma de consciência linear do vir-a-ser fenomênico, a primeira dimensão do sistema trino sucessivo ao espacial. Nasce o tempo. A protoforma da energia propaga-se. Com o movimento, nascem a direção, a corrente, a vibração, o ritmo, a onda. Nasce o tempo, que mede a velocidade de transmissão, o universo é todo invadido por uma palpitação nova, de mais intensa, de mais rápida transformação. E quando a matéria, recondensada por concentração das correntes dinâmicas, inicia novamente o seu ciclo ascensional, é toda tomada de um vórtice dinâmico que a guia e plasma na gênese estelar, numa evolução diversa e superior à precedente, íntima maturação estequiogenética: uma madureza da qual nascerão não só miríades de novas criaturas mais ágeis e ativas, como eletricidade, luz, calor, som e toda a série das individuações dinâmicas, as quais, afinal, se destilarão na criação superior da vida. (...) Quando num sistema rotatório sobrevém uma força nova, esta se imite no sistema e tende a se acrescentar e se fundir no tipo de movimento circular preexistente. Podeis imaginar que profundas complicações advêm ao entrelaçamento, já de si mesmo complexo, das forças atrativo-repulsivas. O simples movimento circular se agiganta num mais complexo moto vorticoso. Pela imissão de novos elétrons, o movimento não somente se complica estruturalmente, mas se reforça, alimentado por novos impulsos. Em vez de um sistema planetário, tereis uma nova unidade que vos lembra os sorvedouros de água, as trombas marinhas, os turbilhões e ciclones, O princípio cinético da matéria é assim retomado pela energia, numa forma vorticosa muito mais complexa e poderosa. Nasce, assim, uma nova individuação da Substância, agora verdadeiro organismo cinético, em que todas as criações e conquistas, isto é, trajetórias e equilíbrios precedentes constituídos, subsistem mas se coordenam. (...) O tipo dinâmico do vórtice contém, embrionariamente, todas as características fundamentais da individuação orgânica e do Eu pessoal."

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E SEGUNDO ANDRÉ LUIZ

O princípio espiritual acolheu-se no seio tépido das águas, através dos organismos celulares, que se mantinham e se multiplicavam por cissiparidade.
Em milhares de anos, fez longa viagem na esponja, passando a dominar células autônomas, impondo-lhes o espírito de obediência e de coletividade, na organização primordial dos músculos.
Experimentou longo tempo, antes de ensaiar os alicerces do aparelho nervoso, na medusa, no verme, no batráquio, arrastando-se para emergir do fundo escuro e lodoso das águas, de modo a encetar as experiências primeiras, ao sol meridiano.
Quantos séculos consumiu, revestindo formas monstruosas, aprimorando-se, aqui e ali, ajudado pela interferência indireta das Inteligências superiores? Impossível responder, por enquanto.
Sugou o seio farto da Terra, evolucionando sem parar, através de milênios, até conquistar a região mais alta, onde conseguiu elaborar o próprio alimento.
Por mais esforços que envidemos por simplificar a exposição deste delicado tema, o retrospecto que a respeito fazemos sempre causa perplexidade. Quero dizer, que o princípio espiritual, desde o obscuro momento da criação, caminha sem detenção para frente...
Afastou-se do leito oceânico,
atingiu a superfície das águas protetoras,
moveu-se em direção à lama das margens,
debateu-se no charco,
chegou à terra firme,
experimentou na floresta copioso material de formas representativas,
ergueu-se do solo,
contemplou os céus e,
depois de longos milênios, durante os quais aprendeu a procriar, alimentar-se, escolher, lembrar e sentir, conquistou a inteligência...
Viajou do simples impulso para a irritabilidade,
da irritabilidade para a sensação,
da sensação para o instinto,
do instinto para a razão.
Nessa penosa romagem, inúmeros milênios decorreram sobre nós. Estamos, em todas as épocas, abandonando esferas inferiores, a fim de escalar as superiores. O cérebro é o órgão sagrado de manifestação da mente, em trânsito da animalidade primitiva para a espiritualidade humana.
André Luiz

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AINDA....


Objetivando o ponto delimitador, a distinção clara, entre princípio espiritual e princípio inteligente, apresentamos nossa interpretação - com base nas informações cadastradas neste site - para efeito de estudos, análise e considerações: Entendemos que o princípio espiritual precede ao princípio inteligente. Mas, chegando a confundir-nos como sendo um só princípio.
1º O princípio espiritual evolui da consciência linear, na fase dinâmica, do ciclo involutivo (espacial), manifestando-se com o psiquismo, nos cristais. (Ver em: Trajetória evolutiva do Espírito e Evolução e metabolismo).
2º - No psiquismo reside a substância da vida. (Ver em: Origens do psiquismo e Movimentos Brownianos). O princípio vital age sobre a matéria, nasce a vida e desenvolve o psiquismo: transformação da química inorgânica em química orgânica. (Ver em: Gênese da vida e Fenômenos biológicos). Mas, a consciência não cria a vida, nem a vida cria a consciência, ambas trabalham e ajudam-se mutuamente a vir à luz. .
3º - Com a vida o princípio inteligente nasce (chega), desenvolve a consciência, individualiza-se e, no homem, atinge à consciência de superfície. (Ver em: Mônadas celestes ; A Lei ; Gênese do espírito; Origem e destino do espírito).... A caminho da superconsciência.

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E SEGUNDO ALLAN KARDEC EM "A GÊNESE" - 1868
Até aqui, porém, temos guardado silêncio sobre o mundo espiritual, que também faz parte da criação e cumpre seus destinos conforme as augustas prescrições do Senhor.
Acerca do modo da criação dos Espíritos, entretanto, não posso ministrar mais que um ensino muito restrito, em virtude da minha própria ignorância e também porque tenho ainda de calar-me no que concerne a certas questões, se bem já me haja sido dado aprofundá-las.
Aos que desejem religiosamente conhecer e se mostrem humildes perante Deus, direi, rogando-lhes, todavia, que nenhum sistema prematuro baseiem nas minhas palavras, o seguinte: O Espírito não chega a receber a iluminação divina, que lhe dá, simultaneamente com o livre-arbítrio e a consciência, a noção de seus altos destinos, sem haver passado pela série divinamente fatal dos seres inferiores, entre os quais se elabora lentamente a obra da sua individualização. Unicamente a datar do dia em que o Senhor lhe imprime na fronte o seu tipo augusto, o Espírito toma lugar no seio das humanidades.
De novo peço: não construais sobre as minhas palavras os vossos raciocínios, tão tristemente célebres na história da Metafísica. Eu preferiria mil vezes calar-me sobre tão elevadas questões, tão acima das nossas meditações ordinárias, a vos expor a desnaturar o sentido de meu ensino e a vos lançar, por culpa minha, nos inextricáveis dédalos do deísmo ou do fatalismo.
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E SEGUNDO EMMANUEL EM 1938 - DIZIA


TUDO É VIBRAÇÃO ESPIRITUAL
Já não nos referindo aos poderes plásticos do Espírito, no tocante às questões fisiológicas, quais sejam:
as dos fenômenos osmóticos,
a autonomia de certos órgãos que parecem independentes na sua ação dentro do organismo,
o trabalho da célula que fabrica a antitoxina apta a destruir o micróbio que a ataca, (Ver: Sistema linfático)
a estrutura do princípio fetal, os sinais de nascença que a Ciência tem negado, baseando-se na ausência de ligação nervosa entre o feto e o organismo materno,
desçamos ao mundo zootécnico. Somente a intervenção do princípio espiritual explica as metamorfoses dos insetos, o mimetismo, como o embrião dos instintos e das possibilidades do futuro.

Tudo, nos domínios da matéria, se concatena e se reúne, sob a orientação de um princípio estranho às suas qualidades amorfas.
(Ver: Teoria das cordas; Evolução da matéria; Partículas de Higgs e Epigenética)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

As penas futuras segundo o Espiritismo

Octávio Caúmo Serrano
No capítulo VII da primeira parte do livro “O Céu e o Inferno”, encontramos interessantes questões sobre a vida futura.
As explicações do Espiritismo sobre a crença na vida futura, não se fundamentam em teorias nem em sistemas preconcebidos, mas nas constantes observações oferecidas pelas almas que deixaram a matéria e gravitam na erraticidade nos diferentes planos evolutivos.
Há quase século e meio, essas informações são cuidadosamente anotadas, comparadas e selecionados e formam um compêndio que esclarece devidamente o estado das almas no mundo espiritual.
Quando levamos em conta a universalidade das informações, observamos que as pessoas que viveram em diferentes raças, credos, condições sociais ou intelectuais, religiões, e mesmo ateus, confirmam que a sua situação atual é decorrência do seu próprio passado.
Ao reencarnar, o espírito vem com uma programação geral, tendo como base os velhos erros e acertos, sem que isso determine um destino fatalista. Submete-se às provas e expiações que mais possam ajudá-lo a livrar-se do passado delituoso e fazê-lo avançar na escala espiritual. Há vezes que, além dos fatos da encarnação imediatamente anterior, há outros pendentes de outras passagens pelos planetas que já podem ser enfrentados. Porém, se forem penosos, só poderão ser atendidos por um espírito amadurecido e com capacidade para vencer problemas mais graves. Se ele ainda não tem condição, as provas e as expiações serão ainda suaves, em atenção à pouca capacidade do espírito, no atual momento, e as mais difíceis ficam para outra oportunidade.
A vida do espírito na erraticidade e a sua intenção ou não, conhecimento ou não, aceitação ou não de encarnar depende da situação em que se encontra. A maioria dos que desencarnam na Terra continuam imperfeitos e sofrem na espiritualidade todas as conseqüências dos defeitos que carregam. É este grau de pureza ou impureza que o faz feliz ou infeliz no plano espiritual.
Para ser ditoso o espírito necessita da perfeição. Como isso é raro neste mundo, é fácil concluir-se que a erraticidade que circunda o planeta é ainda um vale de lágrimas, semelhante ao mundo material. É essa comunidade que nos rodeia e influencia os nossos pensamentos, exigindo de nós muita oração e vigilância.
A compreensão e a crença nessa verdade farão os homens melhorar para sofrer menos. Cada um tratará de construir com sabedoria seu próprio futuro para ficar livre das dores.
Estas notícias deixam claro que não há castigo de Deus porque Deus é a Lei. Não pune nem dá prêmios. Toda imperfeição, e as faltas dela nascidas, embute o próprio castigo em condições naturais e inevitáveis. Assim como toda doença é uma punição contra os excessos, como da ociosidade nasce o tédio, não é necessária uma condenação especial para cada falta ou para cada pessoa em particular. Quando segue a lei o homem pode livrar-se dos problemas pela sua vontade. Logo, pode também anular os males praticados e conseguir a felicidade.
A advertência dos espíritos nessa nossa escalada é objetiva e segura. Dizem que “o bem e o mal que fazemos decorrem das qualidades que possuímos. Não fazer o bem quando podemos, é, portanto, o resultado de uma imperfeição.” Observem que não basta não fazer o mal. É preciso fazer o bem.
Os espíritos advertem, também, que não é suficiente que o homem se arrependa do mal que fez, embora seja o primeiro e importante passo; são necessárias a expiação e a reparação.
Quando falta ao espírito a crença na vida futura, fica difícil ele lutar por algo que não acredita e, nesse caso, pratica o mal sem preocupar-se com futuras conseqüências. Por isso, é comum aos espíritos atrasados acreditarem que continuam vivos, materialmente, mesmo após a desencarnação. Continuam com as mesmas necessidades que tinham quando eram humanos. Sentem fome, frio e enfermidades, como qualquer encarnado.
Tudo o que acontece a qualquer um de nós está inscrito na nossa consciência. Dela não podemos fugir por mais longe que estejamos do lugar onde cometemos as faltas. A solução para ter a consciência tranqüila é reparar os erros e desfazer-se do presente que nos atormenta. Quanto mais demoramos na reparação mais sofremos. Não devemos adiar. Nas suas lições, já nos ensinou Jesus: “Reconcilia-te com teu adversário enquanto estás a caminho.”
No próprio capítulo em questão de “O Céu e o Inferno”, há uma indagação que todos nós certamente já fizemos algum dia: Por que tanto sofrimento? “Deus não daria maior prova de amor às suas criaturas criando-as infalíveis, perfeitas, nada mais tendo a adquirir, quer em conhecimento quer em moralidade?” Mas a resposta é óbvia. Deus poderia tê-lo feito, mas não o fez para que o progresso constituísse uma lei geral. Deixou o bem e o mal entregue ao livre-arbítrio de cada um, a fim de que o homem sofresse as dores dos seus erros, mas também o prazer dos seus acertos. E dando “a cada um, segundo as suas obras, no Céu como na Terra.” Esta é a Lei da Justiça Divina. Se assim não fosse, a vida não teria tempero.
O sofrimento, em resumo, é inerente à imperfeição. Livre-se o homem da imperfeição pela sua própria vontade e anulará os males dela decorrentes; conquistará nesse momento a sonhada felicidade.

A Doutrina do Bom-Senso

A Doutrina do Bom-Senso

Bernardino da Silva Moreira

A Filosofia Espírita prima sempre pelo equilíbrio, e não pelos extremismos alienantes da rebeldia arrogante, que insulta e violenta a todos com o disparatar do verbalismo inflamado, a incendiar com a discórdia o campo da paz.

O Movimento Espírita Brasileiro está sendo agitado, por abusos cometidos pelos pseudo-sábios espíritas, que disseminam absurdos à mancheias. Os fluidistas são estudiosos da obra de Roustaing e os laicistas adversários dos roustainguistas.

Lamentavelmente com esse bate-boca, Kardec é colocado em segundo plano, ou, o que é pior, esquecido.

Fazer do espiritismo meio de dissensão é, sem dúvida nenhuma, um absurdo dos mais grosseiros. Allan Kardec, o mestre por excelência, mostrou que a educação espírita se faz de forma integral com Jesus, aliás, esse é o pensamento que dá base a toda Doutrina Espírita. Então por que toda essa algaravia em torno de Jesus?

A religião Espírita é natural, está na Natureza, porque é aonde encontramos as leis de Deus, que também está em nossa consciência. Não vai levar a nada os formalismos farasaístas, e nem a indiferença daqueles que propagam um Espiritismo sem Jesus.

Na introdução de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, Kardec em suas primeiras palavras, declara com sabedoria:

“Podem dividir-se em cinco partes as matérias nos Evangelhos: os atos comuns da vida do Cristo; os milagres; as predições; as palavras que foram tomadas pela Igreja para fundamento de seus dogmas; e o ENSINO MORAL. As quatro primeiras têm sido objeto de CONTROVÉRSIAS: a última porém, conservou-se constantemente INATACÁVEL. Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É terreno onde todos os cultos podem reunir-se, estandarte sobre o qual podem todos colocar-se, quaisquer que sejam suas crenças, porquanto jamais constituiu MATÉRIA DAS DISPUTAS RELIGIOSAS, que sempre e por toda parte se originam das questões dogmáticas. Aliás, se discutissem, nele teriam as seitas encontrado a sua própria CONDENAÇÃO, visto que, na MAIORIA, elas se agarram mais à parte MÍSTICA do que à parte MORAL, QUE EXIGE DE CADA UM A REFORMA DE SI MESMO.”

Sublinhamos algumas palavras que, é bem possível, tenham passado despercebidas daqueles que pretendem, fazer da Doutrina Espírita, um angu de caroço.

Nem oito, nem oitenta, o Espiritismo deve ser o fiel da balança das leis morais e deixar as carolices ou impertinências dos ideólogos quixotescos que pensam revolucionar o mundo, no disparatar acidulante da verborragia desvairada no matraquear desnecessário dos propagadores da discórdia.

Vamos botar a mão na consciência e lembrar que as leis de Deus, estão escritas em nossa consciência e não esquecer, que Jesus continua senso “o tipo mais perfeito” que ele é para toda humanidade, o guia e modelo que todos devemos seguir.

E para encerrar:

“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.”

(Publicado no CORREIO FRATERNO DO ABC, Ano XXXIV, Nº 385, Fevereiro de 2003)

A Ciência Espírita ou do Espírito


Pedro Franco Barbosa

Nota prévia do Autor: Neste artigo resumimos o que nos parece uma situação de fato, relativa ao importante aspecto científico da Doutrina. Estaremos errado? Fomos pessimista? Agradecemos, por antecipação, os esclarecimentos que possamos provocar, por parte dos mais capazes na apreciação do assunto.

  1. Allan Kardec e a definição de Espiritismo, sob o aspecto científico. Depois de Kardec.
  2. A Ciência e seus métodos.
    • Que é Ciência? Fato, observação, experimentação, hipótese, leis.
    • O fenômeno físico e o fenômeno espírita (mensuração diferente).
    • Mudamos ou muda a Ciência? O dogma científico e seus prejuízos.
    • Os preconceitos.
  3. Crítica aos espíritas.
    • Não há pesquisa; a experimentação parou no tempo.
    • Carência de recursos e estudos apropriados.
    • Crookes examinou os fenômenos, não formulou leis.
    • Bozzano e seus esforços nesse sentido.
    • Zollner e suas teorias.
    • O apelo de Emmanuel.
  4. A contribuição de Richet. A criptestesia espíritica.
    • A Parapsicologia: de Rhine até hoje.
    • Os físicos e sua contribuição ao estudo dos fenômenos extra-físicos (anímicos).
  5. Conclusões.

1. Allan Kardec e a definição do Espiritismo, sob o aspecto científico.

Allan Kardec assim definiu o Espiritismo:

“É uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal”. – O QUE É O ESPIRITISMO.

E disse mais:

“Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma maneira que as ciências positivas, isto é, aplica o método experimental”. A GÊNESE (Cap. I, 14)

O estudo dos fenômenos espíritas e a formulação das leis que os regem constituem, pois, uma ciência, de observação, progressiva, a Ciência espírita.

Depois de Kardec.

Depois de Kardec, o Codificador, vultos notáveis do Espiritismo reafirmaram o caráter científico da Doutrina Espírita, expressando de modo positivo seu pensamento:

“O Espiritismo deixa de parte as teorias nebulosas, desprende-se dos dogmas e das superstições e vai apoiar-se nas base inabalável da observação científica” – Gabriel Delanne, em O ESPIRITISMO PERANTE A CIÊNCIA.

“O Espiritismo é uma ciência cujo fim é a demonstração experimental da existência da alma e sua imortalidade, por meio de comunicações com aqueles aos quais impropriamente se têm chamado mortos” – Gabriel Delanne, em O FENÔMENO ESPÍRITA.

“A Ciência Psíquica visa um fim, estuda uma ordem de fatos, emprega métodos, processos e instrumentos exclusivamente seus: cria teorias, estatui princípios, estabelece leis, satisfaz assim e preenche todos os requisitos exigidos pelos foros científicos” – A. Pinheiros Guedes, em CIÊNCIA ESPÍRITA.

“Os fenômenos espíritas estão tão bem comprovados, como os fatos de todas as outras ciências” – Russel Wallace.

A expressão “O Espiritismo será científico ou não subsistirá”, atribuída ao Codificador e citada por confrades, em seus escritos, não é encontrada em nenhuma obra de Allan Kardec.

‘... esta é uma ciência positiva, baseada no estudo experimental dos fenômenos psíquicos e nos ensinamentos dos espíritos elevados” – Gustavo Geley, em RESUMO DA DOUTRINA ESPÍRITA.

Há uma teoria espírita, documentada na prática mediúnica, acerca da sobrevivência do Espírito e de suas relações com o mundo corporal, material ou físico, mas ainda não comprovada pela Ciência.

Naturalmente, não por culpa dos espíritas, que cooperariam com entusiasmo, se a Ciência se decidisse a pesquisar os fenômenos mediúnicos, atendendo às suas peculiaridades e empregando, nas pesquisas, os métodos apropriados.

2. A Ciência e seus métodos.

Que é Ciência? Fato, observação, experimentação, hipóteses, leis. O fenômeno físico e o fenômeno espírita (mensuração diferente). Mudam os fatos ou muda a Ciência? O dogma científico e seus prejuízos. Preconceitos.

Vimos que, seja o Codificador, sejam os vultos eminentes da Doutrina, que o precederam, todos atestam, sem discrepância, o caráter científico do Espiritismo.

- Como a Ciência encara o Espiritismo científico?

Podemos dizer que a Ciência é a “soma de conhecimentos certos, ordenados em harmoniosa síntese lógica, reduzidos a um corpo de doutrina! (2) – Conhecimentos certos porque correspondem a uma realidade objetiva, à qual chegamos pela aplicação de métodos de investigação adequados; síntese lógica, isto é, são coerentes, sem contradição estrutural; corpo de doutrina, ou sejam conjunto de princípios.

O material da Ciência são todos os fenômenos naturais, porque ela se apoia em fatos. Stuart Mill já dizia que a linguagem da Ciência deve ser: “Isto é ou não é; isto se dá ou não se dá”.

A Ciência pergunta “como?” e busca conhecer os fenômenos e descobrir as leis que os regem.

Karl Pearson, em sua GRAMÁTICA DA CIÊNCIA, ensina que “O método científico caracteriza-se pelo seguinte:

  1. cuidadosa e acurada classificação, de fatos e observação de sua correlação e seqüência;
  2. descobrimento das leis científicas com o auxilio da imaginação criadora;
  3. auto-crítica e pedra de toque final de validade para todos os espíritos normalmente constituídos”.

O método científico (indutivo) de Galileu e Newton, é aquele que se acumulam dados experimentais (Bacon), formulam-se hipóteses de trabalho, seguidas de rigorosa experimentação (cartesianismo), para que as teorias se ajustem aos fatos e não vice-versa.

O fim primário da Ciência não é explicar nem indagar o porquê das coisas, mas afirmar: “isto resulta daquilo”.

Temos, desdobramento, a observação de uma ou várias coisas (fenômenos, fatos); a formulação da hipótese, uma explicação provisória; a experimentação, ou repetição do fenômeno para testar a hipótese; a indução, ou seja, a extensão do nexo aos vários casos idênticos; lei, que contém os princípios, e a teoria, que explica o como, não o porquê, que este incumbe à filosofia.

Entretanto, os postulados da Ciência estão sempre a mudar, pela ocorrência de novas descobertas. Ciência é, pois, conhecimento trabalhado, corrigido e sempre acrescido, porque ela é progressiva.

O caráter positivo da Ciência obriga-a ao exame frio dos fatos. O próprio Kardec observou: “Desde que a Ciência saída da observação material dos fatos, em se tratando de os apreciar e explicar, o campo está aberto às conjeturas” – O LIVRO DOS ESPÍRITOS (Introdução).

(1) Há mesmo alguns confrades, que numa evidente falta de visão global da Doutrina, afirmam ser o Espiritismo pura e simplesmente Ciência.

(2) Ver INTRODUÇÃO À FILOSOFIA, do Pe. Francisco Leme Lopes, AGIR Editora.

A Ciência, emancipada da fé, organizou seus processos de trabalho, os seus métodos e suas regras, como meio de encontrar a verdade. Assim, observa os fenômenos, formula hipóteses para explicá-los, repete experiências para confirmar as hipóteses, que podem sofrer adiamento, ser abandonadas ou transformadas em lei. Um dia, esta pode ainda ser substituía.

A Ciência assinala a dificuldade da experimentação nos fenômenos psi, cuja repetividade é difícil; com relação aos fatos espíritas, não os admite de maneira alguma. Alguns cientistas isolados, de alto gabarito intelectual, entretanto, deles têm tratado, como sabemos.

Há manifesta animosidade com relação à explicação desses fatos pelo Espiritismo. Mas é preciso compreender até certo ponto a posição da Ciência, acostumada a raciocinar em termos de leis físicas e não se revelações.

Aliás é preciso convir que há idéias que como que surgem antes do tempo, (a teoria atômica, de Demócrito, por exemplo), e só mais tarde se cristalizam e entram para o rol dos fatos consumados. Pelo menos, para a maioria das criaturas ou para grupos específicos, menos receptivos. Nem sempre o Espírito encarnado se apercebe, no tempo, da magnitude de um fato ou ocorrência, mas sempre realiza em outra encarnação aquilo que devia fazer numa precedente, omitindo-se, no entanto.

Assim se torna mais fácil compreender porque a Ciência só pode aceitar explicação quando cientificamente verificada; só pode falar do que conhece objetivamente. Por isso, não constitui prova para a Ciência as chamadas provas anedóticas (2), impossíveis de verificação pelo cientista.

Na verdade, porém, com relação aos fatos espíritas, fatos também naturais, a Ciência se mostra de uma relutância a toda prova, que nada a dignifica. Nega-se sistematicamente e de pronto.

UM autor espírita (3) já escreveu que os fenômenos mediúnicos não são pesquisados ou são mesmo negados:

  1. pela imaturidade dos cientistas, (espiritual, naturalmente);
  2. pelo atraso das sociedades científicas;
  3. pelo medo do ridículo e da verdade.

Essa atitude vem de longe, como se infere da história da Ciência e um pequeno exemplo é suficiente para caracterizar.

(1) A esfera da Ciência é a dos fenômenos demonstráveis. Alega ela, assim, a dificuldade de repetição do fenômeno espírita, esquecida de que, para sua ocorrência, exigem-se condições especiais, mas não impossíveis, eis que decorrem de três vontades independentes: a do médium ou intermediário, a do pesquisador e, sobretudo a do Espírito, nem sempre à nossa disposição. Há que considerar, também, condições de ordem material e sobretudo espiritual, que permitam a eclosão do fenômeno. Não se pode improvisar a experimentação espirítica.

(2) O material anedótico constitui experiências em primeira mão, relatadas por pessoas sinceras, de espírito crítico, mas não comprovadas; relatos autobiográficos sujeitos à mesma objeção; coleção de casos documentados, investigados por pessoas qualificadas (cientistas, escritores, professores), de que é exemplo PHANTOMS OF THE LIVING, editado por Myers e outros.

(3) Dr. Décio Rufino de Oliveira, em FENÔMENOS PARAPSICOLÓGICOS E ENERGIA CONSCIENTE.

o preconceito científico:

“... na Associação Britânica para o Progresso da Ciência, em 1876, ridicularizaram-lhe francamente o trabalho e recusaram-se a publicá-los nos Procedings da Associação... por parecerem absolutamente inacreditáveis aos cientistas os fatos que Barret relatava” – J. B. Rhine, em NOVAS FRONTEIRAS DA MENTE.

Nesse ridículo de classificarem os fenômenos de impossíveis ainda incorrem os cientistas de hoje: “Considero a PES (Percepção Extra Sensorial) um assunto intelectualmente desconfortável que chega a ser quase penoso”- Warren Weaver, matemático (citado por Arthur Koestler, em AS RAZÕES DA COINCIDÊNCIA).

Alias, o grande Helhholtz (citado por Flournoy) disse que nem o testemunho de todos os membros da Sociedade Real, nem a evidência de seus próprios sentidos poderiam convencer sequer da transmissão de pensamento, impossível que era esse fenômeno, como julgava.

Gustavo Geley, o eminente pesquisador dos fenômenos psíquicos, adverte que os sábios que se dedicam ao estudo desses fenômenos não se preparam devidamente para seu exame, como o fazem com os fenômenos físicos, motivo porque não conseguem realizá-los a seu gosto.

3. Crítica aos espíritas.

Não há pesquisa; a experimentação parou no tempo. Carência de recursos para estudos especializados. Crookes examinou os fenômenos, não formulou as leis. Bozzano e seus esforços nesse sentido. Zollner e suas teorias. O apelo de Emmanuel

Na verdade, os conceitos emitidos e episódios narrados pelos espíritas, quando defendem o caráter científico do Espiritismo, não atendem, sob o ponto de vista da Ciência, às exigências mínimas da observação e experimentação, que caracterizam a pesquisa, o método indutivo, a construção cartesiana.

Critica-se a Ciência materialista por se ater ao exame dos fenômenos físicos; no entanto, isso é natural, porque os problemas do Espírito sempre cederam lugar aos episódios, mais prosaicos, da vida terrena, concretos e contundentes.

Não é sem razão que James B. Corrant, em sua obra COMO COMPREENDER A CIÊNCIA, define-a como “a porção de conhecimento acumulativo em termos de desenvolvimento histórico”, assinalando que os velhos conceitos arraigados podem ser mantidos, a despeito de alegação de fatos em contrário, que são prejudicados em sua evidência, pois o descobrimento científico tem de corresponder à época. Assim, o conceito do flogístico, falsa idéia da combustão, que tanto entusiasmou os cientistas, dificultou a aceitação da verdade, revelada por Lavoisier.

Na pesquisa dos fenômenos psíquicos há, apenas, em verdade, alguns pioneiros, assim mesmo quanto aos fenômenos parapsicológicos ou anímicos; relativamente aos espíritas, nem mesmo os seus adeptos mais conscientes se tem dedicado a sua pesquisa uniforme e correta.

Parece que parou no tempo a experimentação espirítica, quando na própria obra do Codificador muitas proposições verdadeiras foram lançadas, desafiando o estudo dirigido de homens inteligentes, como, por exemplo, a revelação da matéria cósmica primitiva, hoje aceita pela própria Ciência, que a considera formada por partículas elementares e que lhe descobre, a cada dia, novos aspectos.

Hernani Guimarães Andrade, esforçado pesquisador psíquico, não aceita o unilateralismo materialista, que não leva em consideração a outra metade da realidade (ou a única, talvez), o Espírito, mas destaca o progresso por ele proporcionado, pois.

“Em rigor científico eliminou muita crendice, (2), muita superstição e muita imprecisão reinante na interpretação dos fenômenos da Natureza. Em sua benéfica influência saneadora reduziu consideravelmente as indevidas intromissões religiosas, nas questões de alçada exclusiva da Ciência”.

(1) Autor de A TEORIA CORPUSCULAR DO ESPÍRITO E NOVOS RUMOS À EXPERIMENTAÇÃO ESPIRÍTICA.

(2) Sabemos que, em muitos espíritas, apesar de todo o esclarecimento doutrinário à sua disposição, prevalecem ainda os sinais de velhos e retrógrados cultos e religiões.

Na verdade, os grandes cientistas que se ocuparam dos fatos espíritas provaram-nos, mas não estabeleceram as leis que os regem. Citamos, de passagem:

Willian Crookes, sábio inglês e pesquisador de grande acuidade, realizou durante os anos de 1870 a 1873, experiências, que se tornaram clássicas, com a médium extraordinária que foi Florence Cook; as mais completas do gênero, demonstraram à sociedade que os fantasmas voltam e se tornam visíveis, tangíveis e examináveis, de modo a não deixar dúvidas quanto à imortalidade do Espírito e sua possibilidade de comunicação com os vivos. (1) O Espírito Katie King deu a Crookes todas as oportunidades de exame, sério e cercado de todas as cautelas, de comprovação de sua imortalidade, mediante métodos rigorosamente científicos.

Frederico Zollner, notável físico alemão, utilizou-se, em 1877, de outro grande médium do passado, Henry Slade e, agindo como verdadeiro homem de ciência, que era, conseguiu extraordinários fenômenos de materialização (hoje se advoga o termo ectoplasmia), de transporte, de levitação e de escrita direta. Para explicar fenômenos de penetração da matéria pela matéria, imaginou uma quarta dimensão, característica dos seres que habitam o mundo invisível, ou dos Espíritos.

Willian Crawford é outro nome da Ciência, professor do Instituto Técnico e da Universidade de Belfast, que a história das pesquisas psíquicas apontará, um dia, como dos seus mais destacados e competentes cultores. A levitação de objetos foi estudada por ele com extremos cuidados e, graças aos componentes do “Círculo Goligher”, grupo de médiuns de que se destacava a senhorita Kathlen Goligher, pôde comprovar a formação de uma alavanca formada por ectoplasma – o cantilever, de que se valeriam os Espíritos para fazer levitarem objetos pesados (mesas etc.). (3)

Depois de estafantes experiências realizadas entre 1916 e 1920, Crawford, diz René Sudre, “suicidou-se no dia 30 de julho de 1920, durante um acesso de febre cerebral, devido ao esgotamento profissional e às condições criadas pela guerra”. (4).

Terminamos esta ligeira e incompleta citação de sábios, que se ocuparam com os fenômenos espíritas pelo nome glorioso de Ernesto Bozzano, em cuja autobiografia confessa: “Nunca fiz outra coisa senão estudar.”

Bozzano trabalhou, como sabemos, com a grande Eusápia Paladino, a extraordinária médium italiana, que lhe proporcionou a observação de numerosos fenômenos de efeitos físicos. É inestimável a contribuição de Ernesto Bozzano ao estudo da Ciência espírita. São numerosas as obras, todas esplêndidas, que escreveu, a respeito, muitas traduzidas para o Português: FENÔMENOS DE TRANSPORTE, A CRISE DA MORTE, FENÔMENOS PSÍQUICOS, PENSAMENTO E VONTADE, ENIGMAS DA PSICOMETRIA, XENOGLOSSIA, ANIMISMO OU ESPIRITISMO?, METAPSÍQUICA HUMANA, COMUNICAÇÃO MEDIÚNICAS ENTRE VIVOS, MATERIALIZAÇÕES DE ESPÍRITOS etc.

(1) FATOS ESPÍRITAS, editado pela FEB

(2) PROVAS CIENTÍFICAS DA SOBREVIVÊNCIA, Edicel, SP

(3) MECÂNICA PÍQUICA, Lake, SP

(4) V. Introdução, de MECÂNICA PSÍQUICA

O que desejamos, porém, destacar nesta sumária exposição, é o esforço do Professor Ernesto Bozzano no sentido de estabelecer princípios e leis capazes de explicar os fenômenos que observava e estudava, esforço tanto mais louvável quão mais difíceis eram as condições de pesquisa na sua época, comparada com a atual, ainda assim praticamente fechada aos cientistas espiritualistas.

Sempre defendendo a hipótese espírita para explicação dos fenômenos, ele procurava também ilações, conclusões, que a observação e a experimentação possam trazer para dar o necessário cunho de veracidade às manifestações. Contesta, em termos de ciência, a teoria da quarta dimensão, do Prof. Zollner, contrapondo-a à da passagem da matéria pela matéria, que julga ser a verdadeira. (1).

As pesquisas devem continuar, a todo custo e a contribuição dos espíritas, com a necessária capacitação, é da maior valia.

Terminemos este capítulo, com as palavras, como sempre sensatas e superiores, de Emmanuel:

“A Ciência investiga, a Religião crê. Se não é justo que a Ciência imponha diretrizes à Religião, incompatíveis com as suas necessidades de sentimento, não é razoável que a Religião obrigue a Ciência à adoção de normas inconciliáveis com as suas exigências do raciocínio” – SEGUE-ME, obra psicografada por F. Cândido Xavier (Editora O CLARIM). Assim, ainda nas palavras de Emmanuel. (2).

“... necessitamos de operar ativamente para que a Ciência descubra, nos próprios planos físicos, as afirmações da espiritualidade”.

Do contrário, não nos tomarão a sério.

(1) Sugestivo é o episódio da pirite, que o Espírito desmaterializou, transportou para a sala de reunião, mas não pôde tornar material, de novo, ou melhor, reintegrar as partículas caindo a pirite, em forma de pó finíssimo, sobre os presentes. V. FENÔMENOS DE TRANSPORTE, Edição Calvário

(2) “EMMANUEL”, psicografia de F. C. Xavier, 7ª edição FEB, pág. 180.

4. A contribuição de Richet.

A “criptestesia espíritica”, A Parapsicologia, de Rhine até hoje.

Os físicos e sua contribuição ao estudo dos fenômenos extra-físicos (anímicos).

Charles Richet (1) dedicou muitas das páginas de seu alentado TRATADO DE METAPSIQUICA ao estudo do que ele chamou de criptestesia espíritica, sem no entanto perder a oportunidade de sempre se expressar mordazmente com relação ao Espiritismo e aos seus adeptos:

“Os espíritas receberam o meu TRATADO de METAPSIQUICA com grande frieza. Compreendo o seu estado de espírito. Em vez de aceitar a sua teoria ingênua e frágil...” – Prefacio da 2ª edição portuguesa (O grifo é nosso).

“Os espíritas quiseram misturar a ciência com a religião, o que redundou em grande detrimento para a ciência” – pág. 32.

“É um erro bem grave construir uma doutrina com a palavra dos tais espíritos, que são pobres espíritos” – pág. 54.

“Se bem que a criptestesia, em todas essas experiências da Sra. Piper (2), seja absolutamente e irrepreensivelmente demonstrada, a sobrevivência, na realidade, não o é”.- página 207 (Grifamos).

É verdade que incluiu, nos períodos em que dividiu e classificou os acontecimentos e os fatos do Espírito e suas descobertas, o período espirítico, (das irmãs Fox a Willian Crookes) e o científico 9que começa com o próprio Crookes). Suas conclusões com relação à criptestesia experimental (ou espírita) são desanimadoras, entretanto, pois, quanto aos fenômenos observados, afirma que, neles, “...é pouco racional fazer intervir os mortos”- pág. 307.

E prossegue:

“Quaisquer que sejam as surpreendentes respostas de George Pelham (3), a hipóteses de sua sobrevivência é muito frágil” – pág. 316.

“Pois bem! A doutrina de sobrevivência parece-me cheia de impossibilidades, enquanto a outra hipótese, a da “criptestesia intensa é (relativamente) tão fácil de admitir, que não hesito entre as duas” – pág. 317.

“Um dia virá, talvez, quando elas encontrarão alguma explicação, mas provisoriamente não iremos até a hipótese de uma sobrevivência, absolutamente indemonstrada e quase indemonstrável” – pág. 325

“A criptestesia, faculdade extraordinária, supranormal, de conhecimentos, é um fato. A sobrevivência da consciência dos mortos não é senão uma hipótese” – pág. 327 (Grifamos).

Apesar de em sua obre TRATADO DE METAPSIQUICA negar autonomia aos fenômenos mediúnicos e mesmo classificar como indemonstrada e indemonstrável a sobrevivência do Espírito, Richet é um dos nomes imortais da pesquisa psiquica e, em carta que, em 1936 escreveu a Bozzano, rendeu-se à evidência da verdade espírita.

(1) Eminente fisiologista francês, nascido em 1850, dedicou-se às pesquisas psíquicas e nesse ramo deixou obras notáveis, como o TRATADO DE METAPSÍQUICA, O SEXTO SENTIDO, A GRANDE ESPERANÇA.

(2) Leonora E. de Piper, médium norte-americana, desencarnada em 1950, realizou inúmeras sessões de identificação de espíritos, com Hodgson, Lodge, etc.

(3) Jovem advogado e escritor, desencarnado em 1882, de violenta queda, que, através de Madame Piper deu maravilhosas provas de sua identidade.

A Parapsicologia, de Rhine até hoje.

A Parapsicologia, ao contrário da Metapsíquica, que admitia uma criptestesia espíritica, rol de fatos mediúnicos, cuida apenas de fenômenos anímicos e tem despertado maior interesse, senão da própria Ciência, pelo menos de muitos cientistas famosos. Já é bastante, pois que admite a existência do não-físico, da mente, pois, de fato, uma ciência mecanicista, que não quer ouvir falar de princípio espiritual, dificilmente cederá, para aceitar as verdades da Doutrina Espírita, concernentes à sobrevivência da alma e sua comunicação após morte.

A ciência pontificou, considerando a mente entrosada nos órgãos sensoriais e estes, por sua vez, no mecanismo orgânico, que “nada penetra na mente a não ser através dos sentidos”, ou melhor, tudo quanto a mente registra já foi registrado pelos sentidos. Entretanto, aceitando a Parapsicologia, aceita a existência de fenômenos extra-físicos, como a telepatia, a clarividência, a cognição e mesmo a psicocinesia, o que põe por terra o referido postulado.

De qualquer forma a discussão foi iniciada e continuam, pelo menos extra-oficialmente, as experiências, devendo-se ao prof. Joseph Bankes Rhine e à sua equipe, o esforço valioso para estabelecer uma investigação em termos de método e rigor científicos (o estatístico, com base no cálculo das probabilidades etc.) fenômenos paranormais.

Há sempre um pioneiro, que desbrava o terreno e encoraja, enfrentando toda sorte de entraves. Rhine enfrentou o enfrenta a incompreensão de seus colegas e paga seu tributo ao progresso, pois, segundo o matemático Warren Weaver, a PES é um desconforto intelectual quase penoso.

Artigo publicado em ESTUDOS PSIQUICOS (outubro de 1967) e assinado por Demócrito, na seção Cantinho da Ciência, diz que a PARAPSICOLOGIA é importante marco no estudo e pesquisa da alma e de seus fenômenos grandiosos, porque:

  1. fez-se ouvir e acertar no mundo da Ciência;
  2. representa a base sobre que vão assentar as futuras investigações científicas;
  3. marca a abertura de um caminho revolucionário em Ciência, pois o homem pode aperceber-se da realidade sem ser pelos sentidos físicos conhecidos, de que os fenômenos se dão independentemente do tempo e do espaço e ainda de que a psique pode influenciar diretamente a matéria e também que os fenômenos psíquicos não obedecem às leis físicas.

Aliás, parece que hoje a tendência será para não considerar-se com muito rigor, mesmo em sentido pejorativo, a palavra matéria, em contraposição ao Espírito, pois já se fala em matéria psi... Não seria mais certo matéria física, matéria fluídica, matéria astral, matéria mental, matéria elementar? (1).

Obras recentes (2), relatam experiências notáveis realizadas nos países da órbita comunista, que hoje intensificam as pesquisas parapsicológicas, procurando, todavia, lhes dar sempre um cunho materialista ao contrário dos pesquisadores norte-americanos, que lhes reconhece até certo ponto o caráter extra-físico.

Os livros em exame nos falam de grandes pesquisadores como Eduardo Naumov, biologista russo, sem esquecer o pioneiro Leonid Vasiliev e de sensitivos extraordinários, como Karl Nikolaiev e Yuri Kamensky, telepatas, predecessores do famoso Wolf Messing, que esteve no Brasil. Testes clássicos foram realizados, comprovando o extraordinário poder do pensamento demonstrado em fenômenos de PK (psicocinesia), efetuados com a sensitiva Nelya Mikhailova (3). Entretanto, afiançam os russos que o fenômeno é puramente físico-fisiológico. Rosa Kuleshova vê as cores com as pontas dos dedos, em fenômeno crismado como “visão dermo-ótica”. As experiências comprovaram velhas afirmações esotéricas, sobre as cores, que são frias ou quentes, macia ou ásperas, pegajosas ou escorregadias etc. O “efeito Kirlian”, que veio confirmar, cientificamente, ensinos espiritualistas antigos, e minuciosamente descrito, mostrando um corpo energético, crismado de corpo bioplasmático, de qualidades e características extraordinárias.

Na Bulgária, o Dr. Georgi Lazanov, notável pesquisador dos fenômenos parapsicológicos, é positivo em suas convicções, quando diz, a respeito, que tudo pode ser explicado cientificamente, pelo que se utiliza, também, de aparelhos eletrônicos nas pesquisas.

Na Tchecoslovaquia trocaram o nome de Parapsicologia para Psicotrônica e seu grande adepto é o Dr. Zdenek Rejdak, que considera o psi como forma de energia dos organismos vivos.

(1) Pergunta 61 de O LIVRO DOS ESPIRITOS: “Há alguma diferença entre matéria dos corpos orgânicos e a dos inorgânicos”? R. “A matéria é sempre a mesma, mas nos corpos orgânicos está animalizada”.

(2) “Veja-se PARAPSICOLOGIA, SEGREDO DOS RUSSOS, editado por Martin Ebon e EXPERIÊNCIAS PSIQUICAS ALÉM DA CORTINA DE FERRO, de Sheila Ostrander e Lynn Schoeder.

(3) Seu verdadeiro nome é Ninel Kulagina.

Os físicos e sua contribuição ao estudo dos fenômenos extrafísicos (anímicos).

Sucedem-se os congressos de Parapsicologia e seus resultados nada acrescentam ao conhecimento dos fenômenos paranormais, entre eles os espíritas ou mediúnicos, mesmo por que, quanto a estes, em particular, os trabalhos de pesquisa pouco ou nada têm progredido. Cumpre destacar, entretanto, o trabalho de pessoas ou grupos isolados, a respeito, por exemplo, da reencarnação, objeto de acuradas pesquisas, pelo método da memória extra-cerebral, por parte do Dr. Ian Stevenson (1).

Não podemos, portanto, desprezar o esforço de pesquisadores isolados ou de grupos que, embora com muita dificuldade, procuram nos trazer, com rigores do método científico, o conhecimento desses fenômenos, de magna importância para a Humanidade.

Em “AS RAZÕES DA COINCIDÊNCIA”, Arthur Koestler assinala que “os inconcebíveis fenômenos da percepção extra sensorial parecem de certo modo menos absurdos, comparados aos inconcebíveis fenômenos da física”, querendo demonstrar, assim, que os físicos já admitem fatos capazes de violarem todas as leis estabelecidas pela Ciência com relação aos postulados materialistas, que têm defendido até aqui. A PES não poderia existir por contraditar as leis da física, entretanto, a Ciência não conhece a natureza do átomo, mas constrói seus sistemas sobre ele e não nega a existência dos genes, embora sejam “invisíveis aos melhores instrumentos óticos de aumento” (2).

Afirma o Prof. J. Herculano Pires, em sua obra “PARAPSICOLOGIA, HOJE E AMANHÔ, 4ª edição, EDICEL, SP, que “A descoberta progressiva da anti-matéria, a partir dos idos de 1930 – justamente quando nascia a Parapsicologia na Universidade de Duke – levou os físicos de todo o mundo à descoberta do espírito”.

Um famoso astrônomo exclama: “A matéria-prima do Universo é o espírito” – “A NATUREZA DO MUNDO FÍSICO”, Sir Arthur Eddington.

Os físicos já não acham tão impossíveis assim, pelo menos os fenômenos parapsicológicos, depois de se verem compelidos a aceitar a existência de anti-partículas (anti-eletros) formando anti-matéria; de se verem à frente de novos conceitos revolucionários, como da reversão do tempo, de Feynman, Prêmio Nobel de Física em 1965. O fabuloso neutrino, previsto por Wolfgang Pauli e capturado em laboratório, virtualmente não tem propriedades físicas de massa, carga elétrica ou campo magnético, no entanto, um deles poderia atravessar o corpo sólido da Terra, o que deixa a Ciência perplexa, com a derrogação de suas leis (3).

Um dia, estamos certo, ela proclamará a realidade do Espírito e de todos os fenômenos que lhe são próprios.

(1) ‘VINTE CASOS SUGESTIVOS DE REENCARNAÇÃO”

(2) “PALINGÊNESE, A GRANDE LEI”, do Dr. Jorge Andréa

(3) Sobre o fascinante assunto das modernas e revolucionárias concepções da Física, quando “Todo um coro laureado do Prêmio Nobel ergue sua voz para nos anunciar a morte da matéria, a morte da causalidade, a morte do determinismo”, além de “AS RAZÕES DA COINCIDÊNCIA”, leia-se, também, ´O ESPIRITISMO EM FACE DA CIÊNCIA DOS NOSSO DIAS”, de Jethro Vaz de Toledo, Edicel, SP.

5. CONCLUSÕES

I – O Espiritismo é ciência, por definição e essência ou conteúdo. Entretanto

“Ciência ainda não é, porque não equacionou as leis que regem a fenomenologia mediúnica, controlada, por enquanto, pelos experimentadores do Além. No futuro, sim, quando as leis que presidem aos fenômenos mediúnicos nos forem reveladas...” – Dr. R. Penna Ribas, médico e Presidente da Sociedade de Estudos e Pesquisas Espíritas, in artigo publicado em O JORNAL, de 19.07.1970.

II – Os fenômenos mediúnicos são concretos e podem ser observados e estudados, mesmo com as cautelas que a Ciência exige. Entretanto,

“A visão panorâmica do aparelho mental sugere a extrema complexidade do fenômeno mediúnico”.

“Evidentemente, Não podemos Ter qualquer ilusão no que tange aos fatos mediúnicos.

Estamos longe de conhecer as leis fundamentais que vigem nesse setor de pesquisas” – Dr. Jayme Cerviño, médico, espírita, professor de Biologia, in “ALÉM DO INCONSCIENTE”, Edição da FEB.

“Compreendemos a necessidade de definir o fenômeno mediúnico dentro da ciência. Não será obra dos dias atuais”.

“Os fatos estão comprovados (existência e vivência), porém o mecanismo estrutural desses fatos continua no setor das hipóteses”.

“A mediunidade é fenômeno inconteste, desenvolvido na esfera psíquica, ainda bem pouco compreendido pela ciência hodierna” – Dr. Jorge Andréa, médico e Professor do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, in “NOS ALICERCES DO INCONSCIENTE”.

“A Codificação Espírita, no que concerne ao estudo dos fenômenos mediúnicos, peca apenas pela falta de estrutura científica...” “Ao dizermos que a Codificação carece de estrutura científica, longe de nós afirmarmos que Kardec esteja superado ou que haja erros e contradições no seu conteúdo. Pelo contrário, o que afirmamos é que, sendo a doutrina exposta pelo didata lionês em um curto espaço de tempo e trazida a ele por comunicações espirituais, não teve condições de esquematizar uma estrutura nos moldes científicos” – Dr. Carlos de Brito Imbassahy, engenheiro, Professor do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, in Domínio Físico dos Fenômenos Mediúnicos”, artigos publicados na Revista Internacional de Espiritismo, julho e agosto de 1973.

III – Os fenômenos anímicos, por serem de mais fácil observação e estudo, já constituem objeto de pesquisa científica, sob a denominação de PARAPSICOLOGIA, PSICOTRÔNICA E OUTRAS. Ainda assim, há relutância em considerá-los como produzidos pelo Espírito, principalmente em certos países, como a Rússia, a Bulgária etc.

IV – Será atitude de coerência e muito louvável, que os espíritas – que muito justamente destacam o aspecto científico da Doutrina, como da maior importância na sua difusão e como elemento de comprovação dos próprios postulados ético-filosóficos, se organizassem para a pesquisa, em laboratório, dos fenômenos mediúnicos, assim entendidos os oriundos de Espíritos desencarnados (fantasmas), a fim de equacionar as leis que os regem. Afinal, não se pode impor a ninguém, como ciência, uma Doutrina que, nesse particular, não esteja ainda estruturada.

Revista Internacional de Espiritismo – nº 04 – Maio de 1977